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Aumento da oferta ajuda a reduzir inflação de serviços

Fonte: Valor Econômico

A perda de fôlego da inflação de serviços, que caiu um ponto percentual entre dezembro de 2015 e julho deste ano, para 7,12% no acumulado em 12 meses, pode estar sendo influenciada pelo aumento na oferta da ocupação no segmento. Ainda que pequeno, este movimento, aliado à redução na demanda dos consumidores, ajuda a descomprimir os preços.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE, o contingente de trabalhadores no maior setor da economia brasileira cresceu 0,6% nos 12 meses encerrados em junho. No mesmo período, o total de ocupados em todo o país caiu 1%. Apesar da expansão da população ocupada nos serviços, a massa real de rendimentos do setor recuou 1,5% nos 12 meses até junho. Os cálculos foram feitos pela Tendências Consultoria, a pedido do Valor. A retração é explicada pela queda do rendimento médio real destes trabalhadores, que encolheu 2,1% também no acumulado em 12 meses.

Os resultados agregados para o setor de serviços consideram os seis segmentos disponíveis na PNAD: transporte; alojamento e alimentação; informação, comunicação e atividades financeiras; administração pública, outros serviços e, por fim, serviços domésticos. Nessa categoria, o número de ocupados subiu 4,3% no ano terminado em junho, enquanto a renda ficou 1% menor.

A maior retração do rendimento médio real ocorreu no setor de outros serviços, que, segundo o IBGE, inclui atividades como recreação, reparação e manutenção de equipamentos de informática e outras atividades de serviços pessoais. Nesse ramo, a redução da renda chegou a 5,4% nos últimos 12 meses, enquanto a ocupação diminuiu menos no período (- 0,8%).

Com o grande número de demissões na indústria, trabalhadores que perderam o emprego podem abrir um novo negócio de prestação de serviços para ter uma fonte de renda, diz Fabio Romão, economista da LCA Consultores. Esse movimento é verificado na expansão de 4,8% no número de trabalhadores por conta própria, nos 12 meses encerrados em junho, e pode contribuir de algum modo para mitigar a inflação de serviços. Em seus cálculos, ela vai desacelerar um ponto entre 2015 e 2016, para 7,2%. Se confirmada a projeção, esta será a primeira vez desde 2010 em que a alta de preços no setor ficará abaixo de 8%.

De janeiro a junho, destaca Romão, os serviços subiram apenas 3,3% no IPCA. Desde 2007 não eram observados aumentos menores do que 4% no período. No primeiro semestre de 2015, em plena recessão, o conjunto que representa cerca de 35% do IPCA avançou 4,35%. “A demanda está enfraquecida, e essa será a principal contribuição para a desaceleração da inflação de serviços este ano”, avalia o economista, que também menciona a descompressão de custos com tarifas públicas, como energia elétrica.

No Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), as dispensas de trabalhadores com carteira assinada na indústria já estão em ritmo mais contido, diz Rafael Bacciotti, da Tendências, mas a destruição de postos formais no setor de serviços segue ganhando fôlego. Essa dinâmica do mercado de trabalho é favorável ao comportamento da inflação de serviços, diz Bacciotti.

A perda de fôlego da inflação dos serviços poderia ser mais forte, não fosse a mudança de metodologia no cálculo de empregado doméstico e mão de obra para reparo no IPCA. Antes, o IBGE usava os dados de renda da extinta Pesquisa Mensal do Emprego (PME) como base para estimar a variação de preço destes dois itens. A pesquisa antiga foi substituída pela PNAD Contínua, mas o órgão preferiu não usá-la no indicador de inflação por considerar a série muito recente. Por isso, o instituto adotou para o aumento mensal destes dois preços a raiz de 12 do salário mínimo, atualmente em R$ 880.

Assim, enquanto a renda real dos trabalhadores domésticos, pela PNAD, encolheu 1% em 12 meses até junho, o IPCA mostra alta de 8,57% nesses preços em igual período. “Até abril, havia desaceleração destes gastos”, observa o economista da LCA, para quem o aumento nessa despesa não estaria rodando em torno de 0,7% ao mês sem a alteração.

Não por acaso, a inflação de serviços mais influenciados pelo salário mínimo (domésticas, mão de obra para reparos e condomínio) está em alta. Nos cálculos de Rodrigo Alves de Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), esse conjunto de preços aumentou 8,1% nos 12 meses até julho, ante 7,73% em junho. Em relação a dezembro do ano passado, a descompressão foi só de 0,32 ponto.

Em intensidade mais forte, a inflação inercial de serviços – composta por itens como aluguel, consertos e manutenção, serviços de saúde e cursos – já diminuiu dois pontos na comparação com dezembro, para 6,9%. A perda de poder de compra explica a redução dessa parte da inflação, afirma Melo, principalmente nos aluguéis, devido ao mercado de trabalho desaquecido.

Os serviços com menor alta em 12 meses, são os ligados ao desempenho da atividade econômica, que já costumam rodar em nível mais baixo e recuaram de 6,06% para 5,03% entre dezembro e julho.