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Brasil fica entre os últimos lugares em ranking de automação de empresas

Folha de S. Paulo

País é só o 39º entre 44 que mais usam a robótica; especialistas veem perda de competitividade

Depois que um profissional da fábrica da Unilever em Aguaí (SP) coloca um conjunto de 93 latas vazias na esteira, ninguém mais precisa encostar nelas para que caixas de desodorantes cheios e tampados das marcas Dove e Rexona deixem a empresa.

Trabalham ali empilhadeiras autônomas, que levam caixas com insumos e itens prontos de um lado para o outro, máquinas que sozinhas enchem as garrafas e as tampam em fração de segundo e braços robóticos que fazem o encaixotamento dos itens.

Há também um robô que, de duas em duas horas, pega itens prontos e verifica características como peso e diâmetro.

As máquinas registram tudo o que fazem e geram gráficos para que os operadores acompanhem o processo.

Equipadas com sensores, elas se comunicam. Ninguém precisa avisar que faltam latinhas na esteira. O sistema faz solicitações de mais suprimentos por conta própria.

Braços humanos não são usados nem para abastecer o caminhão que leva os itens para o centro de distribuição da empresa. Caixas com o produto final são empilhadas sobre uma esteira posicionada na frente do veículo e descarregam o conteúdo ali dentro.

Ricardo Gomes, diretor da fábrica, diz que ela foi desenvolvida buscando o que há de mais atual em termos de sustentabilidade e tecnologia. Com três anos, é a unidade mais nova da companhia no Brasil. A Unilever tem dez complexos fabris no país.

Segundo ele, a automação torna a produção mais eficiente, aumentando a qualidade e reduzindo o desperdício.
Em algumas semanas, até o abastecimento da esteira com latas será feito por máquinas.

Gomes nega que a adoção de automação diminua o número de trabalhadores. Segundo o executivo, ela permite que eles deixem atividades repetitivas e desconfortáveis e passem a se dedicar a buscar melhorias para a produção ou atuar em outras áreas.

“Temos de desmistificar a ideia de que a automação impacta a participação de pessoas. Quando a usamos, precisamos do ser humano, mas em áreas estratégicas.”

A companhia não informa qual o número de profissionais na unidade de Aguaí.

Apesar de a robótica estar em crescimento no Brasil, exemplos como o da multinacional ainda são raros no país.

Segundo dados da IFR (Federação Internacional de Robótica, na sigla em inglês), o Brasil tem dez robôs a cada 10 mil trabalhadores. A média global é de 74.

O Brasil fica na 39ª posição em um ranking de 44 países que mais usam a tecnologia. A liderança é da Coreia do Sul, com 631 robôs por 10 mil trabalhadores, seguida por Singapura (488) e Alemanha (309).

O atraso ameaça a competitividade das empresas brasileiras, segundo Fernando Madani, coordenador do curso de engenharia de controle e automação do Instituto Mauá de Tecnologia.

“Existe o medo da perda de empregos que a automação traria. Mas, se não formos mais eficientes, vamos perder todos os empregos”, diz.

Segundo Madani, um desafio para empresas que querem adotar robótica é ter mão de obra especializada para dar manutenção aos sistemas, especialmente no caso de pequenas e médias companhias.

“Um robô não é mais tão caro, é possível comprar muitos deles pelo preço de um carro premium, de R$ 300 mil.”

Empresas que fornecem robôs no Brasil, as estrangeiras ABB e Kuka e a nacional Pollux dizem que, apesar da presença baixa deles no país, a demanda vem em alta.

“Na crise, os grandes investimentos em linhas automotivas [em que robôs são mais adotados] foram menores, mas outros setores estão investindo mais”, afirma Daniel Diniz, gerente de marketing e vendas da ABB.

Edouard Mekhalian, diretor-geral da Kuka para o Brasil, diz que a demanda por robôs cresce cerca de 15% ao ano.

Segundo ele, entre os fatores que dificultam o avanço da robótica no Brasil estão o mercado historicamente mais fechado (o que diminuiria a busca por competitividade), as incertezas com relação à política e à economia (que afastam investimentos) e um mercado consumidor que não é acessado por toda a população.

José Rizzo, presidente da Pollux, afirma que o avanço do uso de robôs na década ficou abaixo de sua expectativa.

Ele diz que acreditava que, com o barateamento da tecnologia e o aumento do custo da mão de obra, haveria um crescimento forte a partir de 2014. Porém, como resultado da elevação do desemprego, o interesse por eles não foi o esperado.

Como os clientes não estavam dispostos a fazer investimentos, a companhia passou a oferecer robôs como serviço, alugando os equipamentos e ficando responsável por sua programação e manutenção.

Desde 2017, em vez de o cliente ter de investir R$ 400 mil em um projeto com robô, ele passa a ter a opção de pagar R$ 8.000 mensais para usar a tecnologia.

“Dificilmente iríamos acelerar a adoção no modelo antigo. Agora, de cada dez robôs instalados, oito são nesse modelo.”

Apesar de a iniciativa ter dado bons resultados, ele diz que a situação do país é preocupante: “Se não mudarmos nossa realidade, nem em cem anos tiraremos o atraso”.