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Nova crise política no governo põe em risco a recuperação de contratações

Fonte: DCI

Queda menos intensa da taxa de juros, o aumento da insegurança de empresários e investidores e a resistência às reformas podem impedir o avanço do mercado de trabalho nos próximos meses

A retomada das contratações e a queda do desemprego devem ser atrasadas por causa da nova crise política no País, disseram especialistas entrevistados pelo DCI.

O principal entrave para o mercado de trabalho vem da incerteza sobre o futuro das reformas propostas por Michel Temer. A falta de perspectiva sobre as mudanças nas legislações trabalhista e previdenciária, que seguem no Congresso Nacional, deve emperrar os investimentos, atrasar a redução da taxa básica de juros e, com isso, impedir uma melhora na atividade econômica.

A taxa de desemprego, hoje em 13,7%, deve passar dos 14% “com facilidade” nos próximos meses, afirmou José Nicolau Pompeo, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Até o início desta semana, os analistas diziam que a taxa permaneceria estável no primeiro semestre e cairia no final deste ano.

O avanço das contratações formais, divulgado na terça-feira pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), também deve perder força. “Como já estamos na metade de maio, é possível que os números deste mês ainda sejam bons”, ponderou Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE). A partir de junho, entretanto, não devem ser registrados novos saldos positivos nas admissões, completou ele.

Sobre a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o último dia deste mês, Barbosa indicou que pode ocorrer uma redução menor da Selic. “O Risco Brasil disparou, a taxa de juro de longo prazo cresceu e o câmbio subiu. Por isso, é provável que o próximo corte seja menor [que 1 ponto percentual]”. Ele também lembrou que, em suas últimas atas, os diretores do Banco Central (BC) defenderam a reforma da Previdência, que não deve acontecer tão cedo.

Barbosa ainda colocou em dúvida o destino das concessões do governo federal, que poderiam aquecer o mercado de trabalho. “Ninguém sabe quem será o presidente daqui a seis meses, não é possível investir nesse cenário”, disse.

Desocupação em alta
A taxa composta da subutilização da força de trabalho chegou a 24,1% no primeiro trimestre, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) trimestral, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além dos desempregados, essa taxa considera as pessoas que trabalham menos horas do que gostariam e as que poderiam estar empregadas, mas estão fora do mercado.

No primeiro trimestre de 2016, a subutilização estava em 19,3%. Após o aumento da taxa, 26,5 milhões de pessoas faziam parte desse grupo entre janeiro e março de 2017.

Coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo afirmou que a recessão prolongada está levando alguns trabalhadores a perder o emprego pela segunda vez. “Muitas pessoas perderam o trabalho com carteira assinada e usaram o dinheiro da rescisão para abrir seus próprios negócios. Como a crise permaneceu, muitos desses negócios já estão sendo fechados.”

Outro efeito da recessão é uma maior busca de emprego pelos jovens, indicou Azeredo. “As pessoas mais novas voltam a procurar trabalho para compor a renda familiar, enfraquecida pela recessão”. No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego na faixa etária entre 18 e 24 anos foi de 28,8%. Em igual período de 2014, essa parcela estava em 15,8%.

No recorte por gênero, a situação mais complicada é das trabalhadoras. Segundo nota divulgada pelo IBGE, “em quase todas as regiões, o percentual de mulheres na população desocupada era superior ao de homens”. A disparidade é maior nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Já a analise por raça mostra uma piora do quadro para negros e pardos. Esse grupo compunha 59,1% dos desempregados, no primeiro trimestre de 2012, e chegou a 63,6%, em igual período de 2017.

Outro dado expressivo do IBGE indica que 2,9 milhões de pessoas (18% dos desempregados) procuravam trabalho há mais de dois anos no primeiro trimestre de 2017.

Sem saída
Os especialistas demonstraram pouco otimismo com os próximos meses. Não acreditam que Temer terá forças para aprovar as reformas, e, caso o presidente renuncie ou seja destituído, não veem legitimidade no Congresso para escolher o novo chefe do governo em uma eleição indireta. “Nenhum nome proposto por eles terá condições de contornar a situação”, afirmou Pompeo.