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Renda dos mais ricos cai no Sudeste e sobe no resto do país

Fonte: Valor Econômico

Os mais ricos do Sudeste ficaram menos ricos e, com isso, mais próximos da renda média dos mais ricos de outras regiões do país no ano passado. Em 2017, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a renda mensal do trabalho do 1% mais rico do Sudeste caiu 15% em relação a 2016. O rendimento médio real desse grupo passou de R$ 32 mil mensais em 2016 para R$ 27,2 mil em 2017.

Em todas as demais regiões do país, essa parcela ultrarrica ficou ainda mais rica no ano passado. A renda real do 1% mais rico subiu 10% no Nordeste, 11% no Norte, 12% no Centro-Oeste e 4% no Sul. Com esse movimento (ajudado pelo bom ano agrícola), diminuiu bastante a diferença entre a renda do 1% mais rico do Centro-Oeste e a do Sudeste. Em 2016, a renda dos ultrarricos do Centro-Oeste equivalia a 75% da renda do 1% mais rico do Sudeste. No ano passado, chegou a quase 99%

A queda de 15% na renda dos mais ricos do Sudeste foi influenciada pela crise do Rio de Janeiro (que afetou o funcionalismo, forte no Estado), mas foi mais forte no rico Estado de São Paulo, onde o rendimento médio mensal oriundo do trabalho daqueles com os maiores salários caiu 19%.

Mesmo “menor”, contudo, o salário médio mensal recebido pelo 1% mais rico no Sudeste ainda equivalia a 110 salários da faixa dos 5% de menor rendimento na mesma região, que foi de apenas R$ 245 – menos de um quarto do salário mínimo vigente no país no ano passado.

Os trabalhadores com menores salários perderam renda em todas as regiões do país. A perda, de novo, também foi mais forte no Sudeste. Os 5% com menor rendimento do trabalho receberam, em média, valor 15% inferior ao de 2016. No Nordeste, a queda foi de 3,7%, mas o valor recebido foi de apenas R$ 82. Essa também é uma face muito aguda da desigualdade: enquanto o 1% mais rico do Nordeste ganha 25% menos que o 1% mais rico do Sudeste, os 5% mais pobres recebem 66% menos.

Na média nacional, o índice de Gini, principal medida da desigualdade da renda, ficou estável ao registrar 0,549 – o indicador varia de zero a um, sendo zero uma distribuição perfeitamente igualitária da renda nacional. Uma abertura por regiões, porém, confirma a disparidade de comportamento: enquanto a desigualdade recuou no Sudeste, com o achatamento da renda dos mais ricos, cresceu nas demais regiões, com destaque negativo para o Nordeste.

De acordo com o IBGE, o índice de desigualdade da região Sudeste foi de 0,529 em 2017, queda de 0,006 ponto percentual em relação ao ano anterior (0,535). O movimento foi influenciado pelo Estado de São Paulo, onde o indicador caiu de 0,541 para 0,534 e também pelo Rio de Janeiro (de 0,524 para 0,521).

Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, esse movimento – que pode ser considerado estatisticamente uma  estabilidade – não chega a ser motivo de comemoração, já que foi liderado pela perda da renda do topo da pirâmide brasileira, e não pelo desejável avanço do rendimento dos mais pobres

“Diferentemente do que ocorreu em outras regiões, você teve uma perda da renda na parcela de maior rendimento. No Rio, em 2017, você teve problemas sérios no pagamento de funcionalismo público, redução de renda e pessoal empregado do setor de petróleo. São Paulo também apresentou uma perda no topo do rendimento”, disse o economista.

O Nordeste percebeu um aumento de sua já elevada desigualdade: de 0,555 para 0,567 na passagem dos dois anos. A situação foi pior na Bahia, com aumento de 0,05 ponto na desigualdade, para 0,599.

Segundo Cimar, a desigualdade no Nordeste foi influenciada por uma combinação de perda de emprego da população operária com um contingente menor de domicílios recebendo dinheiro do programa Bolsa Família. O número de domicílios no Nordeste com Bolsa Família encolheu de 5,3 milhões em 2016 para 5,2 milhões em 2017.

A desigualdade aumentou também na passagem de 2016 para 2017 nas regiões Norte (de 0,539 para 0,544), Centro-Oeste (de 0,523 para 0,536) e Sul (de 0,473 para 0,477). Nesse último caso, o destaque positivo foi a redução da desigualdade em Santa Catarina e, o negativo, o aumento da desigualdade no Rio Grande do Sul e no Paraná.

Segundo a pesquisa do IBGE, o índice de Gini cresceu em 15 das 27 unidades da federação no ano passado. No Estado do Amazonas, a desigualdade cresceu de 0,583 em 2016 para 0,604 em 2017, superando o Distrito Federal e tornando-se o maior do país. “O movimento no Estado do Amazonas reproduziu a lógica do que vimos na região”, disse coordenador da pesquisa.

O ano de 2016 foi marcado por uma forte recessão, instabilidade na renda e queda de emprego. Em 2017, além do início da recuperação da atividade econômica, o país passou por um ciclo desinflacionário liderado pela baixa dos preços dos alimentos. Isso contribuiu, ao lado de uma gradual recuperação do emprego e do crédito, para a reação do consumo das famílias.

Apesar do cenário de gradual recuperação, Azeredo diz que uma efetiva melhora da desigualdade passa por um aumento do quantitativo de trabalhadores ocupados e também pela qualidade do emprego. Segundo ele, a população ocupada (empregada, empregadores, funcionários públicos, contas-própria) até cresceu no ano passado, mas pela via da informalidade.

“Quando você olha, 43,4% da massa de rendimento continuou concentrada nos 10% mais riscos. Você só vai ver isso recuar quando aumentar a quantidade e qualidade do emprego na base da pirâmide. O emprego ainda é a principal fonte da renda das famílias, ainda que tenha perdido peso”, disse o técnico do IBGE.

Parte dos economistas antecipa que o mercado vai começar a gerar vagas formais este ano. Se isso ocorrer, pode iniciar um ciclo de redução da pobreza e da desigualdade. Empregos com carteira pagam melhores salários, além de oferecer benefícios, como seguro-desemprego. Dados do Ministério do Trabalho apontam nessa direção, ao mostrar geração líquida de 61,1 mil postos formais em fevereiro, melhor resultado para o mês em quatro anos.