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Pesquisa sobre Saúde do Trabalhador mostra uma realidade doente

Fonte: Assessoria de Imprensa do Sindicato

A 15ª edição do ENCIMESP (Encontro de Cipeiros Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes), tradicional evento realizado pelo departamento de Saúde do Trabalhador do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, além de propor o debate de importantes tópicos sobre a saúde dos trabalhadores, por meio das palestras com a participação do público presente, colheu informações dos cipeiros metalúrgicos sobre a realidade das condições de seus ambientes de trabalho.

Para tanto foi apresentado um questionário com a abordagem de diversos temas, como: riscos de acidentes e doenças; participação nas medidas de proteção; equipamentos de proteção (individual e coletiva); máquinas e equipamentos; ergonomia, entre outros, cujos resultados mais relevantes serão destacados a seguir.

  1. Riscos que mais incomodam

Boa parte dos trabalhadores assinalou que barulho excessivo (49,6%), calor (43,5%) e posições incômodas (40,5%) eram os fatores que mais os incomodavam no ambiente de trabalho.

  • Ruído

Destacamos que o ruído – que ficou em primeiro lugar nas queixas – é gerado, principalmente, nos processos de produção metalúrgicos com máquinas e equipamentos, em virtude do atrito das partes móveis, impactos das ferramentas de corte e estampagem, bem como por outras interações mecânicas. Neste universo, observa-se o registro de altos índices de ruído com maior intensidade e concentração, muitas vezes, provenientes de máquinas e equipamentos inadequados, desgastados e obsoletos, operados sem qualquer programa de manutenção preventiva ou preditiva.

Contudo, há maneiras de se diminuir a intensidade do ruído no ambiente fabril, instalando calços com capacidade amortecedora, substituindo alguns elementos de máquinas ou lubrificando adequadamente os sistemas mecânicos, substituindo peças desgastadas, aplicando isolação acústica nas fontes de ruídos dos motores, máquinas e equipamentos, além da possibilidade de instalar revestimentos nas paredes do setor de trabalho com material de absorção acústica, entre outros.

Mesmo assim, poucas medidas – de ordem coletiva – são implantadas para proteger os trabalhadores dos danos, muitas vezes, irreversíveis causados pelo ruído. E as empresas insistem que o ruído deve ser combatido unicamente com o fornecimento de protetores auriculares.

  • Calor que provoca desconforto e adoece

Geralmente, o desconforto térmico causado pelo calor no ambiente de trabalho, incômodo apontado por quase metade dos cipeiros, segundo a pesquisa, não torna a atividade insalubre. Os métodos de avaliação quantitativa do calor propostos pela NR 15 são voltados para atividades com elevada carga térmica, própria das atividades com fornos, fundição e siderurgia, onde os níveis de calor da maioria das fábricas metalúrgicas não alcançam.

Entretanto, o calor é um agente nocivo que deve ser controlado, ainda que os níveis não permeiem às condições insalubres.

A maioria das fábricas metalúrgicas, ou as atividades metalúrgicas, na maioria dos seus diversos segmentos, mesmo sem a utilização de fornos ou tarefas de fundição, desenvolvem atividades abrasivas, soldagens e tratamentos que elevam, de alguma forma, a temperatura dos próprios materiais conformados, gerando e propagando calor ao ambiente que já é agravado pelas altas temperaturas externas, comuns em nosso País, prejudicando o desenvolvimento de determinadas atividades que já possuem qualidade estressante, penosa; sob coberturas ou ambientes totalmente inadequados, sem espaço conveniente, com baixo pé-direito e aberturas insuficientes que não proporcionam uma adequada circulação de ar no interior das edificações, fatores que agravam o desconforto térmico entre os trabalhadores, expondo-os a riscos de adoecimento.

  • EPI x Condições Seguras: verdade que causa preocupação

A pesquisa mostrou que apenas 7,6% dos cipeiros reclamaram que a falta de EPI (equipamento de proteção individual) era um fator que os incomodava. Aparentemente, este baixo índice pode parecer um bom sinal, indicando que algumas empresas que se julgam “preocupadas com a segurança dos seus trabalhadores” têm investido na proteção destes, ao fornecer EPI. Contudo, o indiscriminado fornecimento de EPI, não só no setor metalúrgico, como em outros segmentos, reflete a equivocada cultura brasileira de atrelar ambiente seguro ao uso de EPI. Verdade que causa preocupação.

Não se pode esquecer que o EPI não exclui o risco da atividade ou do local de trabalho; aliás, se há fornecimento de EPI, é porque existe risco no ambiente laboral. Logo, saber que menos de 10% dos cipeiros se incomodam com a falta de EPI não quer dizer que mais de 90% dos trabalhadores estejam protegidos, mas, pior, pode indicar que a grande maioria dos trabalhadores está enganados com a falsa sensação de segurança dada pelo EPI, diante de condições inseguras de trabalho, haja vista, os 66,4% dos cipeiros que afirmaram ter conhecimento de ocorrências de acidentes em suas fábricas.

Tais dados, na verdade, reforçam o argumento de que o simples fornecimento de EPI não é sinônimo de ambiente seguro, ou que – por si só – evitam o acidente.

  1. Participação (questionada) dos cipeiros nas medidas de proteção da empresa

A pesquisa também buscou saber qual era a participação dos cipeiros na aplicação das medidas de proteção da empresa, por meio da atuação em programas básicos como o PPRA, programas de prevenção em máquinas e equipamentos e Mapa de Riscos. Entretanto, os resultados apresentaram uma participação longe do ideal, onde 50% dos cipeiros afirmaram participar do PPRA; 57,3% em programas de prevenção de máquinas e equipamentos e 54% do Mapa de Risco. Portanto, uma CIPA, na média, não participativa nestas questões importantes.

E, se a participação dos cipeiros nos programas de prevenção das empresas circunda somente entre a metade dos membros da comissão, cujas atribuições exigem o envolvimento da totalidade do grupo, o que dizer da participação dos demais trabalhadores?

Muitos são os fatores que interferem na participação dos cipeiros nessas ações, por exemplo: metalúrgicas que têm seus programas elaborados por empresas de consultoria de segurança e medicina do trabalho, somente para cumprir a burocracia legal; empresas que não compreendem que máquinas e equipamentos merecem atenção especial quanto às medidas de proteção; recusa de muitas empresas em permitir que os cipeiros exerçam suas funções como cipeiros, CIPAS “fantasmas”, entre outros.

Infelizmente, estes resultados apontam que a CIPA ainda é desprezada em muitas empresas, que veem os cipeiros como um fardo a se carregar para cumprimento da lei. Haja vista, que, nem mesmo o Mapa de Risco, que é atribuição distinta da CIPA, é conhecido por todos os cipeiros.

  1. Máquinas e equipamentos: retrato da incoerência e indiferença

Apesar das discussões sobre proteção de máquinas permearem as negociações sindicais de São Paulo nos anos 1990, sendo oficializada em maio de 1999 pela convenção coletiva de trabalho que carregava o PPRPS (programa de prevenção de riscos em prensas e similares) no seu conteúdo, hoje as medidas de proteção do maquinário utilizado pela indústria paulista ainda são palcos de resistência e indiferença por parte da maioria das empresas metalúrgicas.

Vejam a gravidade; segundo 66,4% dos cipeiros que responderam a pesquisa, as máquinas e equipamentos existentes em seus ambientes de trabalho possuem risco de esmagamento e amputação, ao passo que somente 58,9% afirmaram que os operadores receberam ou recebem treinamento. Sabemos que, embora oportuno e necessário, apenas o treinamento não é suficiente, quando a máquina – desprovida de proteções adequadas – oferece riscos.

Esses números confirmam a realidade já conhecida do parque industrial brasileiro, onde muitas máquinas ainda carecem de proteção adequada e, aqueles que as operam, nem sempre foram treinados para tal. E ainda assim, há quem considere que norma de segurança (NR 12) para proteger trabalhadores de acidentes com mutilação, em máquinas e equipamentos, deve ser banida.

  1. Ergonomia

É importante ressaltar que riscos ergonômicos também fazem parte do setor metalúrgico que, em linhas de produção e no uso de máquinas e equipamentos, demandam tarefas que exigem esforço físico, trabalho com movimentos repetitivos, movimentação manual de materiais, e inadequadas posições de trabalho, entre outros fatores ligados à atividade.

Avaliados os resultados das questões que abordaram fatores ergonômicos na pesquisa, enxerga-se a necessidade de prestar uma atenção especial às condições de trabalho dos trabalhadores.

Além dos cipeiros que elencaram posições incômodas como o terceiro item mais prejudicial no ambiente de trabalho (40,5%), somente 42% consideraram que máquinas, equipamentos e ferramentas eram adequadas e não mais que 32% apontaram que o mobiliário era compatível às atividades.

Outros fatores agravantes às condições de trabalho foram apontados por 32,8%, que afirmaram sentir cansaço físico frequente, e por 27,5% dos participantes, que informaram terem sido afastados do trabalho por doenças relacionadas ao trabalho.

A pesquisa mostrou também que o assunto Ergonomia é pouco discutido nos ambientes de trabalho, visto que somente 23% dos cipeiros afirmaram que suas respectivas empresas discutem acerca de questões ergonômicas.

Encerramento

Em um contexto geral a pesquisa demonstrou que a saúde do trabalhador ainda não é um atrativo para a maioria das empresas que, fazendo vistas grossas à aplicação de medidas de proteção necessárias, sustentam em seus ambientes de trabalho condições inseguras e situações que desfavorecem a promoção à saúde e preservação da integridade física e mental dos trabalhadores.

O Departamento de Saúde do Trabalhador faz uso de diversas ferramentas, como esta pesquisa, para avaliar as condições de trabalho em que os trabalhadores estão inseridos e, posteriormente, cooperar – de forma negocial – para a melhoria dos ambientes de trabalho. Desta maneira, o Departamento realiza visitas técnicas nas fábricas, para levantar os riscos existentes e propor medidas de proteção que favoreçam condições seguras de trabalho, por meio da negociação entre os diretores do Sindicato e as empresas, sempre com o acompanhamento de cipeiros e dos demais trabalhadores.

Caso você, trabalhador ou cipeiro metalúrgico de São Paulo e Mogi das Cruzes, queira que o nosso Departamento realize uma visita técnica em sua fábrica, ou elabore uma pesquisa específica voltada para a realidade da empresa em que trabalha, para, com o apoio do Sindicato, buscar um ambiente de trabalho mais saudável e seguro, procure o diretor do Sindicato responsável pela área da sua empresa e solicite nossa visita.

Outros resultados importantes assinalados pelos trabalhadores

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