Paulo Darcie
Os aposentados e pensionistas paulistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) fizeram em junho 190.315 empréstimos consignados. O número é 20,4% menor do que os 239.113 feitos em janeiro.
O valor médio emprestado, no entanto, segue tendência contrária e cresceu 38%, passando de R$ 2.292,66 em janeiro para R$ 3.169,36 em junho. Para entidades de aposentados, o aumento do valor médio dos empréstimos é reflexo do alto endividamento dos segurados do INSS.
“O pessoal já está endividado, então cai o número de gente pegando novos empréstimos”, afirma o presidente da Federação de Aposentados e Pensionistas de São Paulo (Fapesp), Antônio Alves da Silva.
Para ele, a maior parte dos pensionistas que estão recorrendo ao consignado está quitando dívidas anteriores, inclusive outros empréstimos da mesma natureza. “Quem está recorrendo ao consignado é quem está vendendo a dívida contraída com um banco para outro banco, por isso o valor médio cresce”, afirma o presidente da Fapesp.
Pelas regras do consignado, cujas parcelas já são descontadas diretamente na folha de pagamento, não é possível comprometer fração maior do que 30% do rendimento com empréstimos. Silva vê, no entanto, um efeito em cadeia, que se agrava quanto mais baixo for o benefício do pensionista.
“Para quem recebe R$ 1 mil, ter que pagar R$ 300 por mês é muito pesado, o que faz com que ele esteja sempre apertando o orçamento e com o perigo de precisar de outro empréstimo”, afirma.
Por ser uma modalidade com acesso muito fácil, o consignado acaba sendo a primeira opção de quem precisa do crédito: os juros máximos são de 2,34% ao mês, enquanto a taxa do cartão de crédito é, em média, de 10,66% ao mês e o cheque especial de 7,50% mensais, segundo pesquisa da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac). O prazo para quitação da dívida pode chegar a 60 meses, dependendo do banco onde o consignado é feito.
“É muito comum ver situações em que alguém da família está desempregado e então o pai ou avô aposentado toma o crédito para emprestar para essa pessoa”, lembra o professor de finanças do Insper, Otto Nogami. “Quando o familiar demora para se recolocar no mercado de trabalho, o aposentado fica com essa dívida constante”, completa Nogami.
Segundo o professor, a facilidade de contratação do consignado pode também colaborar para a complicar a organização financeira do aposentado. “O brasileiro tem o costume de antecipar o consumo. Se ele sabe que tem acesso fácil ao consignado e que suas taxas são as menores, ele adere e não se dá conta de que isso significa comprometer uma renda no futuro.”