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´As coisas mudam de uma hora para outra´, diz operário

Trabalhadores demitidos
contam como foram
surpreendidos pelos recentes
cortes de pessoal nas empresas

O operador de máquinas Luiz Claudio de Mendonça, 35 anos, está descrente com o que vai ocorrer após a euforia da Copa. Ele é um dos 50 demitidos da Componentes Automotivos Taubaté, do ramo de autopeças, onde trabalhou por 11 anos.

Na sexta-feira, quando foi fazer a homologação no Sindicato dos Metalúrgicos deTaubaté (SP), acompanhado da esposa Cristiane, demonstrava ansiedade em relação ao futuro.“Apesar de não ter filhos, tenho um apartamento financiado e um empréstimo que somam R$ 1 mil por mês. Isso me deixa preocupado”, diz Mendonça, que ganhava cerca de R$ 1,7 mil.

A empresa, segundo ele, está numa situação difícil pois teve um contrato com a Ford encerrado, em razão da mudança na produção de motores da marca.

Depois de 11 anos na mesma empresa, casado há dois anos e meio e com um financiamento de 360 meses de um apartamento que adquiriu há três anos, Mendonça acha que consegue sobreviver até o fim do ano com a indenização que recebeu e com o salário desemprego.

Apesar da experiência, ele prevê que terá dificuldade para encontrar emprego.“Tenho formação pelo Senai, mas agora vejo que deveria ter investido mais em estudos, a gente se acomoda com uma suposta estabilidade, mas as coisas mudam de uma hora para a outra.”

LUCIANO COCA/ESTADÃO

Dificuldade. Mendonça e Cristiane no imóvel financiado

Nem o ensino superior, no entanto, conseguiu garantir o emprego de Carlos Alberto Torres, de 32 anos, que na sexta estava no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo para sua homologação. Ele foi demitido da Italspeed, fabricante de rodas de alumínio, onde trabalhou por nove anos. “Saiu muita gente comigo”, diz o engenheiro.

Já César Silva de Sousa, de 27 anos, ficou um ano e quatro meses numa fábrica de fechaduras e sistemas de segurança, em São Paulo. “Tinha mais expectativas, mas dei azar, pois peguei a indústria num momento de crise”, diz. “Alegaram que o movimento estava fraco. Saíram mais de 20 pessoas.”

Para ele, além da situação geral da economia, a crise no setor vem do aumento das importações. “A maioria das peças agora vem da China, onde tem muita mão de obra escrava.”

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, as demissões ocorrem principalmente entre as pequenas empresas, mas também entre algumas grandes.

Nos últimos meses, os sindicato realizou de 100 a 120 homologações por dia, em comparação a 60 a 80 no ano passado.

Segundo Torres, a fabricante de tratores Valtra, em Mogi das Cruzes, cortou cerca de 100 postos neste mês, além de dar férias coletivas. Aempresa não confirma o número, mas diz que “o desligamento de funcionários se deve a fatores conjunturais e mudanças nos cenários político e econômico, à sazonalidade agrícola, além de mudanças na estrutura”. Diz ainda que“trabalha fortemente para que não haja nenhum outro impacto no quadro de colaboradores./JOÃO CARLOS DE FARIA, ESPECIAL PARA O ESTADO, A.C.P. e C.S.