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Aumento real de 4,5% já foi negociado para 100 mil metalúrgicos

Mais de 100 mil metalúrgicos já tiveram seus salários reajustados em 9% neste ano e um terço deles ainda embolsou um abono de R$ 2,2 mil. A percepção geral entre os líderes sindicais da categoria, no entanto, é de que uma greve geral deve ocorrer a partir desta quinta-feira. O motivo: 132,5 mil metalúrgicos ainda estão em negociações com as empresas e indicativos de greves já foram estabelecidos em três diferentes regiões do país. Os mais de 70 mil petroleiros também estão se mobilizando para realizar uma greve, caso a Petrobras não aceite o reajuste de 15% pedido pela Federação Unida dos Petroleiros (FUP). Além de metalúrgicos e petroleiros, cerca de 450 mil bancários iniciam hoje suas negociações salariais com os bancos, reivindicando reajuste salarial de 11% e uma Participação nos Lucros e Resultados (PLR) maior.

Os metalúrgicos e petroleiros aguardam uma resposta das empresas até amanhã para, então, definir os rumos das reivindicações – ontem, os sindicatos dos metalúrgicos do ABC, de Taubaté, e a FUP entregaram às companhias indicativos de greve. Segundo esse dispositivo, previsto pela Constituição, os sindicatos de trabalhadores “avisam” as empresas com 48 horas de antecedência de que há disposição para entrar em greve. “Infelizmente, o quadro é de que haverá uma greve geral. Não é, absolutamente, o que queremos. Nosso objetivo é alcançar o acordo por meio de negociação”, diz Sergio Nobre, presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC.

Na região do ABC paulista, onde estão pouco mais de 100 mil metalúrgicos, a maior parte – 60% – já obteve reajuste salarial de 9%, sendo 4,52% acima da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), acumulada nos 12 meses terminados 1º de setembro, data-base da categoria. Os cerca de 60 mil trabalhadores cujo acordo foi selado pertencem às indústrias de autopeças, máquinas e eletroeletrônicos. Trata-se da mesma realidade vivida em Taubaté, onde os 14 mil metalúrgicos desses segmentos já tiveram os salários reajustados em 4,52% acima da inflação – o reajuste mais elevado da década.

O indicativo de greve serve, portanto, aos que trabalham nas montadoras. Esses, segundo Isaac do Carmo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, “querem as mesmas condições concedidas aos que trabalham em autopeças, máquinas e eletroeletrônicos”. Nas montadoras do ABC e Taubaté estão, respectivamente, 32 mil e 7,5 mil operários. Ontem, cerca de 13 mil trabalhadores atrasaram a entrada nas fábricas da Volkswagen, Ford e Mercedes-Benz, no ABC. “Esperamos que as montadoras tenham bom senso e aceitem negociar o reajuste de 9%”, diz Valmir Marques, o Biro-Biro, presidente da Federação dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (FEM-CUT), que congrega os sindicatos do ABC e Taubaté.

Os metalúrgicos de Curitiba (PR) e Camaçari (BA) também estão em impasses. Segundo Jamil D´Ávila, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba, as negociações com o sindicato patronal não evoluíram, o que fez a entidade partir para reuniões individuais com as montadoras. “Nos baseamos nos 9% conquistados em São Paulo. Como aqui os salários são menores, queremos mais”, diz. Em Curitiba, o sindicato reivindica reajuste de 13% – sendo 8,7% de reajuste real – além de um abono de R$ 3,5 mil. Segundo D´Ávila, hoje o sindicato se reúne com representantes da Volvo e da Renault e amanhã com integrantes da Volkswagen. Em Camaçari, cerca de 10 mil trabalhadores da Ford estão em greve desde quarta-feira da semana passada – o sindicato pede 7,7% de aumento real.

Situação inversa vivem os metalúrgicos de São José dos Campos e São Caetano. Nessa última, a fábrica da GM foi a primeira a conceder reajuste de 9% aos 9 mil operários, além de abono de R$ 2,2 mil. Ontem, os 30 mil metalúrgicos da GM e das fábricas de autopeças em São José aceitaram, em assembleia, proposta igual. “Como as montadoras estão num ritmo alucinante de trabalho, eles não querem nem pensar em greves por aqui”, diz Vivaldo Moreira, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos.

Entre os petroleiros a percepção, hoje, é “de que a greve é inevitável”, diz Danilo Silva, coordenador da regional Campinas do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo, que auxilia a FUP nas negociações com a Petrobras. A FUP pede reajuste de 15%, sendo 10% de aumento real, para os mais de 70 mil petroleiros. “Mas a proposta que recebemos foi muito insatisfatória, porque superou a inflação em apenas 2%”, diz. Tal qual os metalúrgicos do ABC e de Taubaté, os petroleiros também expediram ontem um indicativo de greve, que passa a valer a partir de amanhã, caso não haja acordo.

A situação salarial dos mais de 450 mil bancários no país começa a ser decidida hoje. Segundo Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), há reivindicação salarial de 11%, sendo 6,7% de aumento real, além de uma PLR equivalente a três salários, somados de um abono de R$ 4 mil. “Os seis maiores bancos do país auferiram lucro 38% maior neste ano que em 2009. Por que não podem repartir conosco?”, diz Cordeiro.