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Banco Central vê cenário de incerteza para inflação

Segundo a ata da reunião do Copom, ´o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação não evoluiu favoravelmente´

Adriana Fernandes e Fabio Graner, da Agência Estado

BRASÍLIA – O Banco Central identifica no cenário econômico brasileiro atual riscos elevados para a convergência “tempestiva” da inflação para o centro da meta, de 4,5%. Para o BC, prevalece nível de incerteza “acima do usual” e o cenário de inflação não evoluiu favoravelmente.

É o que alerta a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), quando a taxa Selic subiu 0,50 ponto porcentual, de 11,25% para 11,75% ao ano. No documento, divulgado na manhã de hoje, os diretores do BC advertem que há influência “ambígua” do cenário internacional sobre o comportamento da inflação doméstica.

“Desde a última reunião, no âmbito externo, fatores de estímulo e seus reflexos sobre preços de ativos apontam menor probabilidade de reversão do processo de recuperação em que se encontram as economias do G3”, destaca ata.

No front interno, os integrantes do Copom avaliam que as medidas macroprudencias recentemente implementadas e ações convencionais de política monetária ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços. Para o BC, as medidas macroprudenciais são um instrumento “rápido e potente” para conter pressões localizadas de demanda.

“Embora as incertezas que cercam o cenário global e, em menor escala, o doméstico, não permitam identificar com clareza o grau de perenidade de pressões recentes, o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação não evoluiu favoravelmente”, avalia o Copom.

Nesse novo ciclo da alta dos juros, o BC já subiu a taxa Selic em um ponto porcentual – 0,50 ponto porcentual em janeiro e o restante agora, na reunião da semana passada.

Dois momentos

O Banco Central advertiu que a inflação acumulada em 12 meses até o terceiro trimestre deste ano tende a permanecer em patamares similares ou mesmo superiores ao atual. Mas, a partir do quarto trimestre, o BC avalia que a tendência da inflação em 12 meses é declinante, na direção da trajetória de metas. Esses são os dois momentos distintos para a trajetória de inflação previstos pelo BC para a inflação.

Na avaliação do BC, a inflação alta em 12 meses é explicada, em parte, pela elevada inércia trazida de 2010 e pelo fato de as projeções, contrastando com o observado em 2010, apontarem taxas de inflação próximas ao padrão histórico no trimestre de junho a agosto de 2011.

Na ata, os diretores do BC insistem na avaliação de que o cenário prospectivo para a inflação não evoluiu favoravelmente desde sua última reunião. “No último trimestre de 2010 e no início deste ano, a inflação foi forte e negativamente influenciada pela dinâmica dos preços de alimentos, em parte, reflexo de choques de oferta domésticos e externos”, destaca o documento.

Para o Copom, as evidências sugerem que os preços ao consumidor já incorporaram parcela substancial dos efeitos desses choques, aos quais se somaram efeitos sazonais característicos da inflação no primeiro bimestre.

O Copom também considera relevantes os efeitos localizados decorrentes da concentração atípica de reajustes de preços administrados ocorrida no primeiro bimestre deste ano. Para o ano todo, no entanto, a avaliação do BC é que o comportamento desses itens tende a ser relativamente benigno. O Copom pondera que esses efeitos ainda deverão impactar a dinâmica dos preços ao consumidor, entre outros mecanismos, por meio da inércia.