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Câmbio começa a impactar projeções para inflação e juros

Tainara Machado, Francine de Lorenzo e Arícia Martins

A desvalorização adicional do câmbio nas últimas semanas – em pouco mais de 20 dias, o dólar saltou de R$ 2,25 para cerca de R$ 2,40 – pode colocar em risco o compromisso do Banco Central de entregar este ano um IPCA menor do que os 5,84% observados no ano passado, principalmente diante da pressão da Petrobras por um novo reajuste da gasolina, avaliam economistas ouvidos pelo Valor. Neste cenário, afirmam, não está descartado que o BC possa prolongar o ciclo de aperto monetário na tentativa de conter o repasse da desvalorização cambial para a inflação doméstica.

Os primeiros sinais de que os economistas começam a incorporar o real mais fraco em relação ao dólar nos seus cenários pode ser visto no Boletim Focus. Embora as projeções para o IPCA neste ano e em 2014 praticamente não tenham se alterado recentemente, as estimativas para o índice nos próximos 12 meses estão em alta há sete semanas. Em 28 de junho, os economistas projetavam que a inflação nos 12 meses à frente seria de 5,65%, expectativa que subiu para 5,97% no dia 16 de agosto.

Para Daniel Moreli Rocha, economista do Banco Indusval & Partners, este é um indício de que o mercado está incorporando o real mais fraco às suas contas gradativamente. Rocha afirma que os riscos para a sua projeção de IPCA de 5,85% em 2013 aumentaram nas últimas semanas, com a mudança de patamar do câmbio. Em sua avaliação, é questão de tempo até que o mercado trace novo cenário para a economia neste ano, a partir de uma taxa de câmbio mais desvalorizada. Seria, em termos, uma repetição do quadro observado em junho, quando a mudança no patamar de câmbio resultou em uma onda de revisões de estimativas no mês seguinte. “Talvez as expectativas para inflação neste ano ainda estejam um pouco tímidas, se considerada a forte alta do câmbio desde maio”, diz.