Índice zero de traição será usado por aliado como barganha por cargos federais
Projeto prevê regra fixa para reajuste até 2015; oposição atacou texto que dá a Dilma poder de aumento por decreto
MARIA CLARA CABRAL
RANIER BRAGON
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA
Após forte pressão do Planalto sobre ministros e partidos que disputam cargos do segundo escalão, a presidente Dilma obteve ontem sua primeira vitória legislativa ao aprovar na Câmara o salário mínimo de R$ 545 para 2011 e derrubar propostas de valores mais altos.
Apesar da união inusitada da oposição com as centrais sindicais, a dissidência da base governista foi mínima.
Com apoio de 100% dos deputados do PMDB, o rolo compressor do governo derrubou facilmente as emendas para elevar o valor a R$ 600 (promessa de campanha do PSDB) e R$ 560 (proposta pelo DEM).
Elas foram derrubadas por larga margem: 376 votos a 106, no primeiro caso; e 361 a 120, no segundo.
“Vai ser um trator, o trator da dona Dilma”, já dizia o líder do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), minutos antes das votações.
Para virar lei, o mínimo de R$ 545 precisa ser aprovado ainda no Senado, que deve votá-lo na próxima quarta-feira. A expectativa é de uma nova vitória folgada.
Com a necessidade de cortar gastos para conter a inflação, o governo jogou pesado para evitar a aprovação de um valor maior do que os R$ 545. Nos últimos dias, ameaçou tratar como opositores eventuais dissidentes. A estratégia funcionou.
O mapa das votações mostrou que os 77 deputados do PMDB presentes votaram com o governo. O mesmo aconteceu com o PSB.
Por sua vez, aliados, principalmente peemedebistas, já falavam ontem em usar o apoio maciço como barganha na partilha de cargos do segundo escalão.
No PT, houve duas traições. Na oposição, também foram registradas quatro dissidências pró-governo, sendo duas do PSDB.
REGRA ATÉ 2015
A lei aprovada prevê regras fixas para o cálculo do mínimo até 2015 -correção pela inflação, mais o índice de crescimento da economia de dois anos antes
O PPS tentou derrubar um trecho do texto segundo o qual os reajustes devem ser feitos por decreto presidencial, sem passar pelo Congresso Nacional.
Esse ponto foi duramente criticado pela oposição. A emenda, porém, foi derrubada, também por maioria.
De acordo com o governo, 47,7 milhões de trabalhadores têm os salários calculados com base nas regras do mínimo, entre trabalhadores formais e informais (29,1 milhões) e beneficiários da Previdência (18,6 milhões).
Durante a votação, representantes das centrais vaiaram petistas, tradicionais aliados, entre eles o ex-presidente da CUT Vicentinho (PT-SP). Relator do projeto, ele foi chamado de “traidor”.
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, disse que a disputa continua no Senado. “A avaliação de Dilma vai cair drasticamente”, disse.
Deputado mais votado no país, Tiririca (PR-SP) votou a favor do salário de R$ 600, minutos depois de dizer que votaria pró-governo. “Ih, então eu votei não [aos R$ 600] e saiu sim”, disse.