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Demissão no trabalho informal tende a elevar taxa oficial de desemprego

De acordo com o IBGE, tanto o número de pessoas com carteira assinada recuou no trimestre encerrado em maio deste ano, quanto o contingente de trabalhadores que estão fora do regime

O enfraquecimento da atividade econômica e diminuição do consumo irão atingir até mesmo o trabalho informal, o que deve intensificar a taxa de desemprego no País, é o que avaliam especialistas.

Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) referente ao trimestre encerrado em maio, e mostrou que a taxa de desocupação atingiu 8,1%. Há um ano estava em 7%.

Segundo Cimar Azeredo, Coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, tanto o número de pessoas com carteira assinada caiu no período, quanto o contingente de pessoas sem carteira. “Isso faz com que reduza o emprego e aumente o volume de empregados e empregadores que buscam trabalhar por conta própria”, disse.

O vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Júlio Miragaya, explica que o trabalho informal não entra na pesquisa do IBGE quando se refere à população ocupada, mas entra na taxa de desemprego, quando é demitido e está à procura de emprego. “E isso deve intensificar ainda mais o aumento da taxa de desemprego”, prevê o especialista.

De fato, o representante do IBGE comentou que os dados até maio demonstram que cresceu a procura de pessoas por vagas, mas a taxa de ocupação se manteve praticamente estável.

De março a maio, existiam 92,104 milhões de pessoas ocupadas. No período imediatamente anterior (fevereiro a abril), eram 92,179 milhões, uma variação negativa de apenas 0,08%. Comparado a igual trimestre de 2014, quando foram registradas 91,807 milhões, houve também uma pequena variação, só que positiva, de 0,32%.

Oportunidades

Miragaya afirma que como o mercado de trabalho está atrelado ao desempenho da economia, uma estabilidade no aumento da taxa de desemprego no País deve ocorrer quando o Produto Interno Bruto (PIB) voltar a crescer, e a queda deve acontecer quando a economia tiver um ritmo de avanço mais concreto.

“Estamos em um trimestre que deve ser o fundo do poço para a retração econômica. O quarto deve ser um pouco melhor, de modo que fechamos o ano, um pouco no zero a zero [estável] para o próximo ano. As expectativas são de que uma retomada no PIB ocorra no segundo semestre de 2016”, aponta o especialista.

Ao mesmo tempo, o vice-presidente da Cofecon, explica que o aumento do desemprego diminuiu o “poder de barganha” dos empregados para elevar seus salários. Com isso, reduz a renda real, em seguida a massa salarial, e, portanto, o consumo, que “representa 60% do PIB”. “É o pior dos mundos”, analisa.

Conforme a Pnad Contínua referente a maio, o rendimento médio real habitualmente recebido em todos os trabalhos (R$ 1.863) ficou estável frente ao trimestre de dezembro a fevereiro de 2015 (R$ 1.877) e em relação ao mesmo trimestre do ano passado (R$ 1.870). A massa de rendimento real (R$ 166,1 bilhões) também não apresentou variação significativa em ambas comparações.

“Para reverter essa situação, o ideal é aumentar os investimentos públicos e privados. Mas como fazer isso se o governo está limitado pela necessidade de ajustes fiscais”, questiona o economista.

Na avaliação dele, um modo de elevar o investimento tanto público, quanto privado, é reduzir a taxa de juros. “Desta forma, diminuiu os custos das empresas, assim como o pagamento da dívida pública. O problema é que o Banco Central (BC) deve subir mais a taxa básica de juros, a Selic, com o propósito de conter a inflação […] Só que a inflação deve diminuir porque como as pessoas estão desempregadas, a demanda não pressiona a oferta. Mas daqui seis meses, o governo vai dizer que a inflação caiu por conta dos juros, o que não é verdade”, critica.

Por outro lado, para José Pastore, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), dada a “inevitável” necessidade de ajustes fiscais, resta para especialistas e empresários aproveitarem a oportunidade para buscar soluções inteligentes. “Essas ideias só ganham visibilidade quando os recursos estão escassos”, entende.