SÉRGIO MENDONÇA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os resultados das pesquisas mensais domiciliares de mercado de trabalho no ano passado (PME-IBGE e PED-Dieese-Seade-parceiros regionais) apontam mudanças e confirmam tendências.
A mais importante é a queda da taxa de desemprego.
Em todas as regiões pesquisadas, o desemprego vem caindo desde 2004, com pequena interrupção em 2009.
Em algumas regiões, a queda tem se dado numa velocidade impressionante.
A segunda tendência é o aumento da formalização das ocupações. Nos anos 1990, analistas e institutos apontavam que o mercado de trabalho no Brasil seria incapaz de voltar a criar empregos formais.
A primeira década do atual século desmentiu com propriedade essas análises.
De acordo com a PED, a cada 10 novas ocupações criadas no país entre 2000 e 2010, pelo menos 8 foram empregos formais.
Ainda que haja migração de parte das ocupações precárias para formais, as novas ocupações são majoritariamente formais, já que o nível de emprego tem crescido expressivamente.
No ano passado, o rendimento médio da população empregada também cresceu.
O ambiente favorável tem aumentado o poder de barganha coletivo (dos sindicatos) e individual (dos trabalhadores) para elevar salários e outros tipos de remuneração. Tem favorecido também a disputa de empresas por trabalhadores qualificados. Além disso, a política de reajuste do salário mínimo amplia o rendimento na base da pirâmide salarial, em função do crescimento do PIB de dois anos anteriores.
Uma mudança merece registro em 2010: a diminuição do contingente de trabalhadores ocupados nos serviços domésticos. Certamente essa mudança é fruto das oportunidades de emprego nos setores que criam vagas com carteira assinada e de rendimentos mais altos.
PERSPECTIVAS
Chegamos, então, ao paraíso, ao pleno emprego? O que esperar de 2011?
É prematuro entoar o canto do pleno emprego e do apagão de mão de obra quando a taxa média de desemprego (PED) atingiu 11,9% em 2010 nas regiões metropolitanas pesquisadas. Ou 6,7% pela PME.
A base de sustentação do atual crescimento da economia brasileira é o mercado interno em expansão. Esse forte crescimento está apoiado no aumento da massa de rendimentos (emprego e salário) e tem “transbordado” para a geração de empregos.
Mesmo com menor crescimento em 2011, tudo indica que o desemprego vai continuar em queda. Entre os desafios à frente destacam-se a criação de empregos de qualidade, a melhoria da educação e da formação dos trabalhadores e a elevação dos salários e da produtividade. Só assim poderemos ingressar no restrito rol dos países desenvolvidos.
SÉRGIO MENDONÇA é economista e assessor da direção técnica do Dieese