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China diversifica sua atuação na América Latina

Fonte: Valor Econômico

No início do mês, foi a crescente presença financeira chinesa na América Latina que causou surpresa.

O Banco Central da Argentina disse estava negociando uma linha de swap de US$ 5 bilhões com o Banco do Povo da China (banco central chinês), paralelamente ao pacote de ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI) à Argentina de US$ 50 bilhões. Ao mesmo tempo, o estatal Bank of China se instalou no Chile, com planos de expansão para a Argentina e o México. Na semana passada, de abertura da Copa do Mundo na Rússia, chamou a atenção o crescente papel da China também no futebol latino-americano.

Embora a China não seja uma superpotência futebolística, sabe-se que este é o esporte favorito do presidente Xi Jinping. O governo central estabeleceu metas para que a equipe nacional se torne, até 2030, a melhor da Ásia, e conquiste uma Copa do Mundo até 2050, segundo a Novam Portam, uma firma de consultoria sino-latina. Para fomentar essa ascensão, Pequim investiu prodigamente em jogadores de futebol estrangeiros, especialmente astros latino-americanas. Em 2012, os clubes chineses gastaram US$ 51 milhões em transferências. Em 2016, esse gasto disparou para US $ 451 milhões.

O crescente papel da China na América Latina é bem conhecido – e é uma preocupação para aqueles que, nos EUA, temem que isso sinalize uma influência americana cada vez menor no hemisfério. Entre 2006 e 2016, o comércio entre as duas regiões cresceu mais de 200%, enquanto o comércio entre os EUA e a América Latina cresceu apenas 38%. Muitas das apostas da China na região, desde então, como se sabe, azedaram, especialmente os US$ 60 bilhões emprestados à Venezuela em troca de petróleo. É por isso que os empréstimos do governo chinês para Estados sul-americanos caíram para “apenas” US$ 9 bilhões em 2017.

Mas o papel da China na América Latina está longe de encolher. Os chineses estão se diversificando em setores não tradicionais, como tecnologia e serviços de táxi via aplicativos, com a Didi, concorrente da Uber. Eles também estão se distanciando de Estados esquerdistas em dificuldades para acessar mercados financeiros, como a Venezuela e o Equador, e aproximando-se de países mais bem administrados e maiores, para onde Pequim pode exportar seus excedentes de capacidade, sejam financeiros ou de infraestrutura.

A China construiu duas usinas nucleares na Argentina, uma auto-estrada na Colômbia, um porto para contêineres no Brasil e tem uma participação de 35% na terceira maior empresa de energia brasileira. Apesar de o México ser até agora um retardatário, não é difícil imaginar que a China desempenhe um papel importante nos planos do provável próximo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, de construir uma ferrovia transnacional. De fato, a equipe de López Obrador já mencionou a China como sendo um parceiro em potencial.

A americana National Endowment for Democracy citou o aumento da penetração da China na América Latina – em finanças, infraestrutura, intercâmbio cultural ou no desembolso recorde de aproximadamente US$ 70 milhões, em 2016, para a transferência do jogador brasileiro Oscar dos Santos Emboaba, do Chelsea, para o Xangai SIPG – como um exemplo do crescente “poder” da rival na região. Mas isso pode ser um alarmismo exagerado.

Por exemplo, a China é hoje um parceiro comercial tão importante que, como disse recentemente Jorge Heine, ex-embaixador chileno na China: “Quando ouço argumentos no sentido de que a América Latina reconsidere a relação com a China… [digo] que não seria possível”.

A América Latina certamente não é ingênua quanto as vantagens e desvantagens da crescente presença chinesa. Muitos se queixam do esvaziamento da base manufatureira em seus países: a maioria das fantasias para o carnaval brasileiro, por exemplo, são confeccionadas na China, e em 2003 o economista Barry Eichengreen observou que mais sombreros são produzidos na China do que no México.

Mas o crescente papel chinês não surpreende, tendo em vista a abordagem de “poder truculento” dos EUA na região, incentivada por Donald Trump, ou o esvaziamento, por Washington, de seu experiente corpo diplomático latino-americano. Além disso, competição não é a própria base do capitalismo democrático que os EUA promovem?