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Corte de vagas e busca maior por trabalho elevam desemprego a 5,3%

Por Camilla Veras Mota, Elisa Soares e Robson Sales | De São Paulo e do Rio

Os dados de emprego de janeiro trouxeram sinais mais fortes de deterioração das condições do mercado de trabalho. Além da alta significativa na taxa de desemprego – de um ponto percentual em relação a dezembro, para 5,3% -, o trabalho com carteira assinada caiu, na comparação com o mesmo intervalo do ano anterior, pela primeira vez desde o início da série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), em 2002 – 1,9%.

O trabalho por conta própria aumentou 3,3% em relação a dezembro e 4,8% sobre janeiro do ano passado. Mesmo com essa alta, a ocupação encolheu 0,9% e 0,5%, nesses períodos. O aumento de 10,7% da população desocupada, no confronto com janeiro do ano passado, foi recorde para o mês. Nas seis regiões metropolitanas que compõem o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o contingente de desempregados chegou a 1,288 milhão de pessoas.

O grupo de inativos – que vinha crescendo no ano passado com o movimento de saída de pessoas do mercado de trabalho e aliviando a pressão sobre a taxa de desemprego – caiu no confronto com dezembro pela primeira vez em 12 anos, 0,2%. A população economicamente ativa (PEA), por sua vez, permaneceu relativamente estável e variou 0,1% – em 2014, o indicador caiu 0,7%.

“Diante do comportamento do mercado de trabalho em 2014, os economistas estão mais cautelosos, mas já é possível ver os sinais mais fortes da desaceleração deste ano”, pondera Natalia Cotarelli, do Banco Indusval & Partners (BI&P). Para ela, a queda significativa na ocupação e a estabilidade da força de trabalho sinalizam que os indicadores de emprego, ao contrário do que aconteceu em 2014, devem se comportar mais em linha com os dados de atividade neste ano.

Entre os setores, ressalta a economista, os destaques negativos já refletem essa maior conformidade. A indústria e a construção civil demitiram acima da média, com quedas de 6% e de 4,2% na ocupação, respectivamente. Para Natalia, a taxa de desemprego média deste ano deve ficar em 5,5% – um pouco acima do indicador do ano passado, 4,8%.

“Esse janeiro foi bem diferente do que a gente vinha acompanhando”, disse Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE. Ela lembra que janeiro é um mês em que a taxa de desemprego sazonalmente aumenta, devido à dispensa dos temporários contratados nas festas de fim de ano. No mês passado, entretanto, esse movimento foi mais forte, afirma a economista. Além do avanço das demissões, ressalta, a busca por emprego também foi maior.

Para André Muller, da Quest Investimentos, essa combinação deve se intensificar no decorrer deste ano e levar a taxa de desemprego média a 6,3%. O ritmo mais forte de crescimento da força de trabalho, avalia, será ditado pelo comportamento da renda. A inflação mais alta – próxima de 7% no acumulado em 12 meses – e o poder de barganha menor dos sindicatos, devido justamente ao avanço das demissões, deve significar ganhos reais menores nos salários, pondera.

Em janeiro, a renda média real ainda registrou alta significativa, de 1,7%, mas já em nível menor do que nos dois anos anteriores – 3,6% em 2014 e 2,4% em 2013.

A queda da ocupação em janeiro veio em ritmo menor do que a expectativa do economista para o mês – a avaliação, entretanto, é de que ela deve encolher em ritmo mais forte nos próximos meses. Os dados dessazonalizados pela Quest apuraram uma leve alta no indicador em janeiro sobre dezembro, de 0,3%. A população economicamente ativa (PEA), por sua vez, subiu 0,4%.