TATIANA RESENDE
Apesar de 2009 ter sido marcado pela crise econômica mundial, 92,6% das negociações salariais no país conseguiram, pelo menos, repor a inflação dos 12 meses anteriores ao reajuste, de acordo com os dados divulgados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) nesta quinta-feira.
Segundo o Dieese, o ano passado completa uma sequência ininterrupta de seis anos em que 80% ou mais das categorias conseguiram pelo menos a reposição da inflação.
Data-base no segundo semestre beneficia trabalhador, aponta Dieese
O desempenho, na avaliação do órgão, foi influenciado pela boa capacidade de negociação dos sindicatos em meio à crise internacional, pelo apoio às iniciativas de governo para minimizar os efeitos da turbulência, e pela inflação sob controle no período, facilitando as negociações com as empresas.
O levantamento analisou 692 negociações no ano passado e considera a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), calculado pelo IBGE. O resultado é
superior ao contabilizado em 2008 (88,6%), considerando as negociações comuns –o número total atingiu 782 naquele ano.
A comparação com anos anteriores não é possível por causa da discrepância entre o número de acordos e convenções coletivas analisadas em cada período. Em 1996, primeiro ano da série histórica, por exemplo, foram apenas 231.
Ganho real
Segundo o órgão, 79,9% das negociações garantiram reajustes superiores à variação do índice, 12,7% obtiveram percentual igual e outros 7,4% não conseguiram repor o poder de compra dos trabalhadores em 2009.
O ganho real no rendimento foi de até 3% em 74,6% das negociações e superior a esse patamar para 5,3% do total. O incremento está diretamente relacionado à política de valorização do salário mínimo.
Na avaliação por setor, o comércio apresentou o melhor desempenho, com apenas 3,8% dos acordos e convenções firmados pelas categorias de trabalhadores analisadas tendo reajuste abaixo da inflação. Na indústria, 6,8% ficaram nessa situação, enquanto em serviços foram 9,5%.
Na distribuição dos reajustes de acordo com a data-base maio concentra a maior parcela, 28,5%, seguido de março, com 13,4%.
Indicadores
No ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro recuou 0,2%, registrando a primeira retração na atividade econômica desde 1992. Desde o início da nova série histórica do IBGE, em 1996, foi o primeiro índice negativo.
A recuperação dos efeitos da crise econômica, no entanto, levou o quarto trimestre a um crescimento de 2% no confronto com os três meses imediatamente anteriores. Na comparação com o período de outubro a dezembro de 2008, a economia teve expansão de 4,3%.
O Ministério do Trabalho contabilizou a criação de 995.110 empregos com carteira assinada em 2009, o pior saldo desde 2003, enquanto o IBGE registrou uma taxa de desemprego média de 8,1%, pouco acima dos 7,9% em 2008.