Para economistas, parte das vagas perdidas após setembro de 2008 só deve retornar com investimentos
Marcelo Rehder
“Todo processo de crise forte como a que vivemos leva à necessidade de um ajuste de produtividade muito grande, que é um ganho que fica, mas acaba se refletindo no mercado de trabalho”, diz o economista. “O positivo é que isso aumenta o poder de competição das empresas, que podem assim retomar mais rapidamente o seu processo de investimento e contratar novas equipes, num segundo momento.”
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, observa que, enquanto puder auferir ganhos de produtividade, o empresário normalmente não contrata mais mão de obra. “Neste momento, a produtividade cresce num ritmo muito forte, justamente porque as empresas demitiram muita gente, e boa parte delas tem conseguido aumentar a produção sem fazer contratações.”
Para Borges, embora o ritmo de recuperação do emprego industrial tenha acelerado em outubro e novembro, ainda falta muito chão para chegar ao nível de setembro de 2008.
“Ainda existem 167 mil trabalhadores com carteira assinada que não recuperaram o seu emprego na indústria”, diz o economista, tendo como base dados referentes a novembro, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.
Para a economia como um todo, no entanto, o emprego formal já superou o nível anterior à crise em 714,5 mil vagas. “A indústria foi golpeada duramente pela crise”, observa Castelo Branco.
O problema, segundo ele, é que o mercado de trabalho normalmente reage com certa defasagem em relação à economia real da produção, que vem se recuperando desde janeiro do ano passado. Já o emprego industrial começou a reagir em julho, ainda de forma tímida, antes de ganhar ritmo mais forte no último trimestre de 2009.
“Descontados os fatores sazonais, em novembro o emprego industrial ainda estava 4,8% abaixo do nível pré-crise”, frisa o economista da LCA, referindo-se aos dados pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “É um número parecido com o da produção física, que apresentava queda de 5,9% em na comparação com setembro de 2008”.
Desempregado desde agosto, o metalúrgico Damião Faustino da Silva, de 37 anos, conseguiu em novembro um novo emprego, e com salário maior. Ele ganhava R$ 950 por mês como operador de máquina numa indústria de autopeças instalada na capital paulista. Agora, ganha R$ 1.100 no cargo de auxiliar de produção em outra autopeças de São Paulo. “Não esperava encontrar um emprego tão rápido”, diz o metalúrgico, que é casado e tem duas filhas.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, observa que era natural que o emprego industrial fosse um dos últimos a se recuperar, como de fato está acontecendo. “A partir de dezembro, a comparação com 2009 já poderá entrar no terreno positivo e deverá continuar se recuperando ao longo do primeiro semestre”, ressalta Vale.
Segundo ele, existe um efeito de base fraca de comparação, mas certamente parte desse crescimento é pela própria recuperação da economia. “Para 2010, devemos ver o emprego industrial crescer em torno de 5% na comparação com 2009.”