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Empresa recupera vendas e paga dias parados na crise

Indústria MWM volta ao ritmo de 2008 e paga adicional de 52,5% nos salários conforme acerto feito no auge da crise mundial

Paula Pacheco

Célio Dias Guimarães, 24 anos, e Valter Lima das Flores, de 43 anos, souberam da crise econômica mundial pelo noticiário. Mas rapidamente o problema cruzou os portões da MWM International (pertencente a americana Navistar), fabricante de motores instalada na zona sul de São Paulo, onde os dois trabalham.

Flores, técnico de operação, casado e pai de três filhos, tinha acabado de comprar uma casa financiada quando recebeu a notícia, em fevereiro do ano passado, de que a empresa precisaria reduzir a jornada de trabalho. Durante três meses, sempre às sextas-feiras, os empregados ficariam em casa, com redução de 20% da jornada. O problema estava no fato de que teriam de abrir mão de 17,5% do salário. “Cortei despesas porque tinha assumido a responsabilidade de pagar o financiamento. Não atrasei nenhuma prestação.”

A situação do montador Guimarães era menos desconfortável. Como morava com os pais, ele tinha uma sobra de caixa e costumava aplicar pelo menos 50% do salário na caderneta de poupança. A queda no rendimento o obrigou a reduzir gastos e um pouco das aplicações. E, é claro, alimentou um clima de incertezas. “Só se ouvia falar de crise o tempo todo, seja no noticiário, seja entre amigos e parentes que perderam o emprego, como o meu irmão”, lembra.

Recentemente, a crise voltou a ter destaque nas conversas. Mas desta vez a notícia era boa. Flores, Guimarães e outros 3.300 trabalhadores conseguiram bater a meta acertada entre a empresa, a Força Sindical, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e os sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo e de Canoas (RS), onde está a outra fábrica da empresa. Como resultado, uma remuneração extra.

O combinado era que, se os níveis de vendas voltassem à média do período pré-crise ao longo de seis meses, a contar de novembro de 2009 (início do ano fiscal), a empresa pagaria metade do que foi descontado da folha de salários durante a redução de jornada. Mais seis meses de meta cumprida (entre maio de 2010 e outubro) e os trabalhadores receberiam os outros 50%. Se o funcionário ganhasse R$ 1 mil por mês, receberia um adicional de R$ 525 ao salário. Além disso, ficou acertado que não haveria demissões durante 45 dias.
Grana extra. No fim de abril, os empregados da MWM começaram a ser informados que haviam cumprido a primeira parte da meta. E acabam de saber que muito provavelmente baterão a meta por completo. Se isso acontecer, em janeiro de 2011, mês em que é pago o Programa de Participação nos Resultados Operacionais (PRO), os funcionários embolsarão um adicional de 52,5% sobre o contracheque (soma dos três meses em que foram descontados os 17,5%).

Segundo conta Michael Ketterer, diretor de Vendas e Marketing da MWM, a palavra de ordem durante o período de recessão era “vamos fazer motor”. “O ano de 2008 havia sido o melhor da história, com a produção de 141 mil motores. No ano passado, caímos para 112 mil. Mas neste ano a previsão é chegar a 144 mil unidades”, comemora. Graças a atual boa fase foi preciso contratar 360 empregados, distribuídos entre as plantas de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

A situação vivida pelos funcionários da MWM foi generalizada. A necessidade de adequar a produção à desaceleração econômica levou muitas empresas e sindicatos a negociar a redução de jornada e de salários.

Em janeiro de 2009, no auge das incertezas, cerca de 130 indústrias e 9 sindicatos (representando 532 mil metalúrgicos) negociavam para minimizar os estragos da crise. Naquele mês, o mercado de trabalho formal perdeu 101.748 postos, primeiro resultado negativo para o mês desde 1999. Havia uma sucessão de más notícias, como o corte de 20% no quadro da Embraer. Mas, segundo os principais sindicatos de metalúrgicos do País, não se tem notícia de casos como o da MWM, que repôs aos funcionários a redução salarial.
Investimento. O ritmo de crescimento do mercado de motores está tão forte que a MWM fará o maior investimento da história. Serão US$ 345 milhões de 2010 a 2015 para, entre outras demandas, atender ao início da produção de motores da Man, dona da Volkswagen Caminhões e Ônibus, e a dois contratos de exportação fechados recentemente: um com a sul-coreana Daewoo e outro com a turca Otokar.
Ketterer acreditava que, apesar da instabilidade, o consumo de motores retomaria o ritmo pré-crise: “O pior que poderia acontecer era que a crise levasse mais tempo para acabar”.
Agora, com a certeza do dinheiro extra, os trabalhadores fazem planos. Flores promete finalmente investir na reforma da casa. Já Guimarães planeja fazer faculdade e se tornar engenheiro. “Agora é só alegria”, comemora.