Escrito por Ronaldo D’Ercole
Força Sindical denuncia CNI por uso do Sistema S em anúncio contra projeto.
Entidade nega
Subiu o tom do debate entre empresários e centrais sindicais em torno do projeto de emenda constitucional (PEC) 231, que propõe a redução da jornada de trabalho no país de 44 para 40 horas.
Ontem, enquanto a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que reuniu 45 entidades entre federações e associações, em São Paulo, divulgava comunicado repudiando publicamente a PEC, a Força Sindical protocolou na Procuradoria Geral do Trabalho (PGT), em Brasília, denúncia contra a CNI pelo uso de recursos do Sistema S (Senai e Sesi) em campanhas publicitárias contra a redução da jornada de trabalho.
Segundo o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, a CNI tem usado o programa “Boletim da Indústria Brasileira”, de um minuto por dia em duas das maiores redes nacionais de rádio, para “falar contra a jornada de 40 horas por semana”.
Em entrevista para falar da posição do setor em relação ao projeto que tramita no Congresso, Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, reagiu com irritação ao ser indagado sobre a denúncia da Força Sindical.
— É um equívoco afirmar que a CNI usa os recursos do Sistema S, simplesmente porque o orçamento da CNI não tem como fonte direta os recursos do Sistema S. Trata-se de uma pseudo-denúncia, sem qualquer conteúdo, por absoluta fragilidade — afirmou Monteiro Neto.
Segundo o dirigente, a CNI fica com apenas 1% dos recursos do Sistema S a título de remuneração pelo gerenciamento desses recursos, uma atribuição que lhe é dada pela Constituição. Monteiro Neto não detalhou, entretanto, quanto do orçamento de R$ 160 milhões da CNI para este ano vem dessa remuneração.
No documento divulgado ontem, os empresários da indústria dizem que, com a proximidade das eleições, o debate está “contaminado”, e que os líderes sindicais buscam vantagens eleitorais ao defender a aprovação imediata da redução da jornada.
— Achamos que essa bandeira é muito menos uma prioridade do trabalhador do que o interesse desses líderes de obter um bônus eleitoral — reforçou Monteiro Neto.
Presidente da CNI defende negociação entre as partes A redução “obrigatória” da jornada, segundo a CNI, é inoportuna e pode comprometer o processo de recuperação da atividade industrial e do nível do emprego no setor.
— Essa não é uma agenda prioritária do trabalhador brasileiro neste momento, e o argumento de que a jornada menor gera empregos é uma falácia, porque se estará aumentado os custos das empresas — disse o empresário.
As indústrias, disse, não são contra a redução da jornada, desde que seja negociada entre as partes: — Pode haver redução de jornada, desde que negociada e em setores que conseguem se manter competitivos.
Fonte: O Globo