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Marcelo Cruanes, da Kone; dois terços do faturamento são obtidos com a importação e a venda das máquinas chinesas
DE SÃO PAULO
Em 2006, a Kone se rendeu aos produtos importados. Criada em 1974, a indústria de bens de capital da família Cruanes, instalada na cidade de Limeira, no interior de São Paulo, desistiu de competir com os asiáticos.
Hoje, a empresa importa dos países asiáticos, sobretudo da China, entre 50 e 60 furadeiras de fresadoras por mês, produto com venda garantida. A produção local, quando muito, alcança 30 máquinas no Brasil.
Isso mudou a situação da empresa e tornou ociosos os 7.000 metros quadrados. Dois terços do faturamento são obtidos com a importação e a venda das máquinas chinesas. Marcelo Cruanes Filho, neto e bisneto de industriais, tenta agora não ser o protagonista do fim de uma tradição.
“Se fosse só pelo meu pai, a Kone já teria se transformado numa importadora. Mantenho a produção com o esforço de tentar ter o menor preço possível. Só assim posso manter a indústria ativa.”
Mas não é fácil. A maior parte dos equipamentos chineses tem preços inalcançáveis. Marcelo dá exemplo:
“Produzia aqui uma furadeira ao custo de R$ 90 mil. Pois os chineses oferecem para mim o mesmo equipamento para vender no Brasil a R$ 30 mil. Acredite: ganho mais importando máquina da China do que produzindo no Brasil.”
Só pelas peças fundidas usadas na máquina confeccionada no Brasil a Kone paga R$ 27 mil.
Uma alternativa seria encontrar alguma máquina não produzida pelos asiáticos. Mas não existe capital para isso, e a capacidade de inovação também já foi desmobilizada.
LICITAÇÕES
Nem nas licitações do Senai -instituição bancada pela indústria- a Kone consegue mais competir.
“A licitação é por preço, perco todas. O problema é o seguinte: um aluno do Senai vai aprender numa máquina chinesa, mas não vai ter onde trabalhar, pois as indústrias que produzem o equipamento estão fechando.”
(AB)