Com desemprego baixo e inflação em patamar menor, trabalhadores conseguiram aumento nas negociações
Quadro muda conforme mês de negociação; desaceleração afetou categorias que ficaram para segundo semestre
CLAUDIA ROLLI
DE SÃO PAULO
O aumento real médio concedido nos acordos salariais de 2014 superou o do ano anterior. Mas o enfraquecimento da economia no segundo semestre e a inflação mais elevada fizeram com que as categorias profissionais que negociaram de julho a dezembro obtivessem ganhos inferiores às do primeiro.
Os dados estão em estudo divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) que constatou ganho real médio de 1,39% no ano passado ante 1,22% obtido em 2013.
Os melhores anos para as negociações salariais foram 2010 e 2012, quando os trabalhadores conseguiram aumentos de 1,66% e 1,90% acima da inflação.
Dos 716 acordos analisados no ano passado, 91,5% obtiveram reajustes superiores ao INPC, o indicador mais usado nas negociações.
Outros 6,1% tiveram correção igual à inflação, e 2,4% não conseguiram repor as perdas nos salários. Em 2013, os resultados foram inferiores (veja quadro).
“Houve uma inversão no comportamento que tradicionalmente ocorre. No segundo semestre, as negociações tendem a ter ganhos maiores. O cenário mudou porque a atividade econômica perdeu força, principalmente a partir de setembro de 2014”, diz José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.
No segundo semestre negociam categorias como bancários, metalúrgicos, químicos e petroleiros, com maior tradição sindical.
No primeiro, sentam-se à mesa de negociação trabalhadores ligados ao setor de serviços, como asseio e conservação, operários da construção civil e professores.
Para o economista Fábio Romão, da consultoria LCA, o desemprego em baixa permitiu a conquista de reajustes com ganhos reais melhores. Em 2013, a taxa de desemprego foi de 5,4%, segundo o IBGE. No ano passado, 4,8%.
“Sem a pressão do desemprego e com a dificuldade para contratar profissionais mais qualificados, os sindicatos conseguem negociar reajustes melhores”, diz o economista. Em 2015, o cenário deve se inverter.
Os segmentos da indústria que concederam ganhos mais expressivos foram construção e imobiliário; alimentação e metalúrgico (inclui material elétrico). Fiação e tecelagem e química e farmacêutica pagaram aumentos menores.
No ano passado, a indústria têxtil fechou 20,8 mil postos, segundo o Ministério do Trabalho. Ao todo, a indústria perdeu 165 mil vagas.
O comércio foi o setor com maior proporção de reajustes salariais acima da inflação (98,2%). Para as centrais sindicais, a política de reajuste do salário mínimo “segurou” o consumo das famílias.
O ganho real médio no comércio foi de 1,38%. No setor de serviços, os melhores ganhos estiveram em transporte, turismo e bancos.