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Indústria focada no mercado interno é otimista

PEDRO SOARES

DA SUCURSAL DO RIO

O mercado interno vai novamente sustentar o PIB em 2010 -assim como no ano passado- e os setores mais dispostos a investir são justamente aqueles focados no consumo doméstico e que receberam estímulos do governo. São também os mesmos que lideram a retomada da produção industrial.

O retrato surge das consultas a novos financiamentos do BNDES, da sondagem da FGV que detectou a disposição de empresários em investir e da pesquisa de indústrias do IBGE, coletados pela Folha.

Em quase todas as variáveis, a indústria automobilística desponta. Os pedidos de novos empréstimos ao banco estatal subiram 44%. A produção avançou 103% entre janeiro de 2009 (quando o setor fabril começou a reagir à crise). Já 71% das montadores pretendem investir mais neste ano.

Também figuram entre os mais otimistas e com recuperação mais rápida ramos da indústria química, material eletrônico e de comunicações (estimulada especialmente por celulares), mecânica e metalúrgica -todos com desempenho acima da média da indústria.

A tendência é positiva e indica que a economia pode voltar a crescer sem restrições e risco de alta dos preços em razão da baixa oferta, diz o economista André Macedo, do IBGE.

Os dados de consultas do BNDES sinalizam a intenção dos empresários de ampliar a capacidade instalada de suas fábricas no futuro -o que só fazem quando a economia está com boas perspectivas.

Para Fernando Puga, economista do BNDES, os empresários reagiram “com um certo exagero à crise” e cortaram investimentos de modo muito intenso e rápido desde o final de 2008. A partir do segundo semestre do ano passado, diz, os estoques baixaram muito e eles perceberam a necessidade de voltar a investir.

“Esses segmentos [ligados ao consumo interno] vão aproveitar o câmbio favorável para importar bens de capital e poder aumentar investimentos focando no mercado doméstico”, opina o economista Sérgio Vale, da MB Associados.

Queda na exportação

Estudo do BNDES mostra que 63,2% da perda da indústria brasileira durante a crise está relacionada à forte queda das exportações.

Entre o terceiro trimestre de 2008 e o mesmo período do ano passado, a produção do setor caiu 9,6%. Nesse mesmo período, as exportações sofreram queda de 17%.

O trabalho inovou ao computar o impacto indireto das exportações na produção industrial. “Descobrimos que o impacto das exportações na indústria do país é muito maior do que se imaginava”, diz Marcelo Nascimento, economista do BNDES e autor do estudo.

Com a abordagem tradicional de mensurar só os produtos diretamente exportados, a retração das vendas do país ao exterior responderia por 37% da queda da produção industrial no período.

Considerando também as exportações indiretas, o peso do setor externo da indústria avança de 19% para 32%.