Após um 2009 de muitas dificuldades, o setor já abriu 30 mil postos de trabalho apenas em janeiro. O otimismo é tanto que o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo já sonha com a volta das mobilizações em campanhas salariais
Carolina Dall’olio, carolina.dallolio@grupoestado.com.br
Todo fim de ano, como parte das festas de confraternização entre os trabalhadores, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo organiza um campeonato de futebol. Mas na edição de 2009, um dos times foi desclassificado: simplesmente não apareceu para jogar as quartas-de-final.
Talvez eles não estivessem mesmo muito a fim de brincadeira. Afinal, 2009 foi um ano difícil para a indústria paulista, que fechou 50 mil postos de trabalho por conta da crise – 18 mil delas só no segmento metalúrgico. E mesmo para quem conseguiu manter o emprego, o revés da economia não passou em branco: foram ao menos 11 contratos de redução salarial com redução de jornada, que minguaram a renda de 8 mil funcionários por cerca de seis meses.
Mas a ausência do time de metalúrgicos na reta final do campeonato, ao contrário do que possa parecer, não foi fruto de desânimo pelo ano que passou. Os jogadores se ausentaram porque foram chamados a fazer hora extra em suas empresas. Um sinal de que a indústria já voltava a produzir em ritmo forte, revelando ser questão de tempo para que as contratações fossem retomadas.
Demorou pouco. Em janeiro de 2010 o setor já abriu 30 mil vagas, segundo dados do Ministério do Trabalho. E a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) projeta que outras 110 mil sejam criadas até o fim do ano.
“A força do mercado interno brasileiro impediu que o impacto da crise na indústria fosse maior. E, agora, aliada à retomada do crédito, vai ser a principal alavanca para retomada da produção e do emprego no setor”, avalia Paulo Francini, diretor do departamento de economia da Fiesp. “Temos força para fechar 2010 com 140 mil contratações.”
Com a recuperação da indústria, diz a Fiesp, as empresas estão abrindo vagas para diversos tipos de profissionais, do chão de fábrica aos cargos de gerência. Na metalúrgica Ulfel, de Itaquaquecetuba, a má fase que fez a companhia demitir em massa em 2009, ficou para trás. Com a retomada das encomendas, desde janeiro, a indústria contratou funcionários tanto para a área operacional da empresa quanto administrativa.
O assistente de marketing Eduardo Oliveira, de 31 anos, é um dos recém-admitidos. Ele e 20% dos funcionários da antiga empresa foram demitidos no ano passado por conta da crise. “Procurava vagas nesse mercado, mas só achei agora em janeiro”, relata Oliveira. “Mas como ainda não encerrei o cadastro na agência de empregos, continuo recebendo avisos de vagas disponíveis no ramo. E, a cada dia, essas vagas crescem mais.”
Alguns setores da indústria ainda não zeraram as perdas ocasionadas pela crise, mas estão próximas disso (veja ao lado). Outros, como a indústria de bebidas e alimentos e as empresas do ramo têxtil, embora já tenham hoje mais trabalhadores empregados do que tinham antes da turbulência econômica começar, continuam em franca expansão do emprego. Apenas no Estado de São Paulo, a previsão é que ao menos 4 mil trabalhadores sejam contratados para trabalhar em confecções até o fim do ano. No ramo alimentício, devem ser ao menos mais 5 mil.
Para Francini, da Fiesp, embora o crescimento do emprego deva ser “amplo e difuso”, beneficiando profissionais de diferentes formações, é mais provável que a maior parte das vagas seja voltada para funcionários da produção. “Essa é a necessidade mais imediata da indústria”, admite Francini. “Os trabalhadores da área administrativa que foram demitidos na crise podem buscar recolocação em outras áreas, uma vez que a indústria fez uma ‘reengenharia’ por conta da crise e agora pode continuar funcionando bem com menos empregados.”
COMO E ONDE PROCURAR EMPREGO
Para quem trabalhava na produção industrial e foi demitido por causa da crise, o momento é favorável à recolocação. Sindicatos das categorias e a Secretaria do Emprego (www.emprego.sp.gov.br) anunciam em seus sites vagas para quem quer trabalhar no ramo
Já para quem atuava na área administrativa das indústrias, as oportunidades aparecem em menor quantidade. Isso porque, depois da crise, as empresas se reestruturaram e esses setores hoje conseguem operar com um número menor de trabalhadores
Por isso, pode ser mais fácil procurar trabalho em empresas de outros segmentos, como serviço e comércio
Mas, seja na área operacional ou administrativa, quem busca uma vaga na indústria não pode prescindir de formação técnica. Mesmo para cargos que oferecem salários menores, ser especializado é a exigência mínima