Marcelo Rehder
Participação da indústria de transformação no PIB caiu de 27% para 16% nos últimos 20 anos; para setor, quadro é de difícil reversão
Pressionada pelas importações, a indústria brasileira de transformação perdeu R$ 17,3 bilhões de produção e deixou de gerar 46 mil postos de trabalho em apenas nove meses de 2010. A informação é de um estudo inédito da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que mediu o impacto que o processo de perda relativa do setor na formação do Produto Interno Bruto (PIB) apresenta na economia brasileira. As informações são do jornal o Estado de São Paulo.
Segundo o jornal o Estado S.Paulo, em dois anos, o chamado coeficiente de importação, que mede o porcentual da demanda interna suprido por produtos vindos do exterior, subiu quase dois pontos. Passou de 19,6%, no acumulado de janeiro a setembro de 2008 (pré-crise), para 21,2%, no mesmo período de 2010.
Ainda segundo a publicação, se o setor não tivesse perdido participação para os produtos estrangeiros, as importações do setor cairiam de R$ 232,4 bilhões para R$ 215,1 bilhões, segundo a Fiesp. Ao mesmo tempo, a produção doméstica subiria de R$ 1,055 trilhão para R$ 1,072 trilhão. Esse crescimento da produção, de 1,6%, geraria aumento de 0,58% do emprego industrial.
“O País não pode se dar ao luxo de abrir mão de sua indústria na sua estratégia de desenvolvimento”, afirma o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
No fim dos anos 1980, a indústria de transformação representava 27% do PIB brasileiro. Hoje, baixou para 16%, calcula a Fiesp com base na nova metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia Estatísticas (IBGE), adotada a partir de 2007.
“É uma equação difícil de ser resolvida e não tem solução de curto prazo”, diz Paulo Francini, diretor do departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp. “Além do problema do cambio valorizado, há a questão do custo Brasil, que acentua a perda de competitividade da nossa indústria.”
Não é de hoje que a indústria vem perdendo espaço. “O País está se desindustrializando desde 1992”, diz o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira.
Para ele, o Brasil perdeu a possibilidade de “neutralizar a tendência estrutural à sobreposição cíclica da taxa de câmbio” quando fez a abertura financeira, no quadro de acordo com o FMI. “Em consequência, a moeda nacional se apreciou, as oportunidades de investimentos lucrativos voltados para a exportação diminuíram, a poupança caiu, o mercado interno foi inundado por bens importados e muitas empresas nacionais deixaram de crescer ou mesmo quebraram.”