Notícias

Inflação pode atrapalhar as negociações salariais


LUCIELE VELLUTO

Inflação, Produto Interno Bruto (PIB), juros, crescimento da economia. Todos esses fatores estarão na mesa de negociação entre trabalhadores e patrões no segundo semestre deste ano, quando as principais categorias organizadas reivindicam seus reajustes salariais. Mas a alta dos preços é a principal preocupação para ambas as partes: ela pode dificultar os acordos e prejudicar um aumento que apresente ganhos reais, aqueles que vão além da simples correção das perdas de renda ocorridas no último ano.

Para as centrais sindicais, a preocupação é tanta que elas resolveram se unir e anunciam amanhã uma série de ações contra o discurso de que os salários pressionam a inflação, adotado por alguns economistas e até por algumas áreas do governo federal. A data escolhida como Dia Nacional de Mobilização é 6 de julho.

“A inflação trará uma dificuldade adicional quando metalúrgicos, químicos, bancários e petroleiros chegarem em sua data-base, por volta de setembro e outubro deste ano. Nessa época, o acumulado da inflação em 12 meses deve estar por volta de 7% e isso pode influenciar nos ganhos acima das perdas de rendimento que ocorrem com a alta dos preços”, explica José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A própria visão que os sindicatos patronais e de trabalhadores têm da inflação já mostra quanto as negociações serão complicadas. Enquanto as entidades que representam os funcionários querem recuperar a perda acumulada em um ano, a organização dos empregadores diz que é preciso ter uma visão menos imediatista.

“Temos margem para recuperar a inflação e ainda ter aumento real, pois o PIB registrado no ano passado foi de 7,5%”, comenta o dirigente Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. A entidade já começou preparar a pauta de reivindicações para as negociações do segundo semestre.

“As negociações serão em um momento ruim. A indústria cresce de lado, a demanda está elevando as importações e não há reflexo na produção da indústria brasileira. Mas as empresas precisam olhar para frente, e no fim do ano a previsão é de inflação menor”, afirma André Rebelo, assessor de assuntos estratégicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), referindo-se as expectativas dos analistas, que é fechar o ano com inflação em 6,22%, o que reduziria as perdas salariais.

O professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e da Faculdade de Economia, Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (FEA/PUC), Arnaldo Mazzei Nogueira, acredita que o que deve contribuir para as negociações é a situação atual da economia, que está em crescimento, como já apontou o resultado do PIB do primeiro trimestre deste ano – 1,3% de alta em relação ao último trimestre de 2010.

Nogueira também afirma que para aceitar reajustes reais não tão elevados como nos outros anos, os sindicatos também negociam aumentar os valores de Participação nos Lucros ou Resultados (PLR). “Mas isso não é bom para o trabalhador, pois quando esse valor não é incorporado ao salário, não há uma evolução constante da renda”, explica o professor.

O coordenador do Dieese também condena o argumento de que os reajustes salariais geram inflação. “O que está pressionando os índices inflacionários é o aumento do preço dos serviços e das commodities (matérias-primas), que são preços internacionais. Não podemos culpar e penalizar o trabalhador, pois os salários não estão crescendo acima da produtividade”, analisa Oliveira.

O assessor da Fiesp afirma que apesar da possibilidade de a negociação ser mais dura, a expectativa é que o acordo seja feito na mesa de debate sem que haja paralisações. “Ninguém gosta de greve. Acreditamos na negociação”, afirma Rebelo.