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Manifestantes fazem lavagem simbólica da Fiesp pelas 40 horas

Depois de levantarem o acampamento montado terça-feira, sindicalistas lavaram a calçada para ´purificar´ a entidade

Marcelo Rehder – O Estado de S.Paulo

Acampados desde terça-feira em frente à sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), sindicalistas e trabalhadores ligados à Força Sindical deixaram ontem a Avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo. O fim do protesto pela redução da jornada de trabalho, sem redução dos salários, foi irônico. Eles lavaram a calçada do prédio da entidade com ervas perfumadas, numa alusão à tradicional festa de Nosso Senhor do Bonfim, que se realiza na Bahia.

A lavagem foi feita por sete mulheres vestidas de baianas, ao som da música Rainha Negra, de Maria Bethânia, Elas usaram lavanda e ervas de cheiro, como arruda, manjericão e alecrim, e contaram com a ajuda de cerca de 200 manifestantes, entre trabalhadores metalúrgicos, da construção civil, costureiras e do setor de brinquedos.

“Fizemos uma limpeza simbólica no local para purificar o a cabeça e o coração dos empresários”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi das Cruzes e Região, Miguel Torres. “Esperamos que eles se convençam de que é possível ter redução de jornada no Brasil, com desenvolvimento econômico e social.”

A manifestação na Fiesp faz parte da campanha das centrais sindicais pela redução da jornada de trabalho, das atuais 44 horas para 40 horas semanais.

Além da pressão sobre os empresários, os sindicalistas se mobilizam no Congresso Nacional para que seja votada ainda no primeiro semestre deste ano a proposta de emenda constitucional que reduz a jornada.

Polêmica. Na avaliação dos sindicalistas, a redução da jornada para 40 horas abre espaço para a criar mais de 2,5 milhões de postos de trabalho no País. Eles argumentam ainda que adoção da medida liberaria mais horas para que o trabalhador tivesse melhores condições de estudar e se qualificar, além de dedicar mais tempo para o convívio familiar e o lazer.

No entanto, a questão é polêmica. Especialistas como o professor Hélio Zylberstajn, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), observam que ninguém conseguiu provar que houve aumento de empregos nos países onde a jornada foi reduzida por lei ou negociação.

Entre os empresários, a avaliação geral é de que a medida não gera os efeitos pretendidos sobre a criação de emprego e amplia a informalidade. E mais: teria impacto negativo na competitividade do produto brasileiro.

Além de não concordar com a redução da jornada por força de lei, a Fiesp se recusa a negociar em nome de setores ou conjunto de empresas. O diretor sindical da entidade, Roberto Della Manna, alega que a redução da jornada tem de ser por livre negociação, porém, levando em conta as peculiaridades das diversas atividades econômicas e o tamanho das empresas.

Categorias mais organizadas têm conquistado acordos de redução da jornada em negociação direta com empresas. Só este ano, os metalúrgicos de São Paulo, por exemplo, já fecharam quase 30 acordos, que beneficiam mais de 6 mil trabalhadores.