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Mas salário ainda não acompanha produtividade, diz OIT


Assis Moreira | De Genebra

Os aumentos de salários na América Latina entre 2000 e 2010 foram menores que a alta da produtividade do trabalho, contribuindo de forma importante na desigualdade social na região. É o que diz a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em estudos a serem examinados em reunião ministerial na semana que vem, no Chile.

“A distribuição de renda continua sendo mais desigual na América Latina e Caribe do que em qualquer outra região do mundo, apesar de leves melhoras entre 2002 e 2008”, constata.

Entre 2003/07, a média ponderada dos salários reais em 12 países subiu 0,7%, frente à alta de 1,8% da produtividade do trabalho. O crescimento “não retribuiu o valor agregado do trabalho na geração de riqueza”.

A participação da massa salarial no Produto Interno Bruto (PIB) continuou caindo em 2008. Em vários países, o reajuste de salários médio foi de 0,6% frente à alta de produtividade de 1,2%.

A OIT constata que as repercussões da crise global na América Latina foram de menor intensidade, graças a políticas anticíclicas de expansão de gasto fiscal e programas sociais, com destaque no caso do Brasil. Mas a crise limitou mais os aumentos reais de salários na região e a ausência de um nível adequado de negociação coletiva tem efeito na relação entre alta salarial e produtividade. Em todo caso, a situação é melhor que em outras regiões, onde houve cortes salariais maiores e desemprego.

Para a OIT, o impacto da crise pode gerar um “retrocesso” nos no combate a superação da pobreza na América Latina. O desemprego urbano, de 7,3% em 2008, poderá crescer para 8,2% ao final de 2010. Isso apesar da alta do PIB de 5,2% na América Latina em 2010, puxado pelo Brasil, com alta de 7,6%.

Em 2009, havia 18,1 milhões de trabalhadores urbanos sem emprego na região, 2,2 milhões a mais que em 2008. Além disso, grande parte das atividades econômicas continua se desenvolvendo na economia informal. Em cinco países com dados disponíveis, o emprego informal alcançava 53,6% do trabalho em 2009.

Além de alta “moderado” da informalidade do trabalho na maioria das nações, o nível de cobertura da saúde e aposentadorias continua precário na região.

No caso do Brasil, os estudos da entidade são particularmente positivos. É um dos países na região que mais tem aumentado o salário mínimo e as aposentadorias em termos reais. A OIT estima que a queda da pobreza no Brasil foi de 21% entre 1990/2008 e de 19% no Chile. Considera que o país também tem feito progressos importantes no combate ao trabalho infantil e forçado.

A OIT alerta que, mesmo se a maioria dos países reagiu com políticas adequadas na crise financeira, será necessário esforço extra para afrontar desigualdade e déficit de trabalho decente.