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Mulheres ocupam só 30% das vagas com salário maior

 Luciele Velluto
A gerente de marketing e comunicação da diretoria regional São Paulo da Vivo, Trícia Carla Cristilli, de 39 anos, precisou de 20 anos de dedicação à carreira até chegar a um cargo gerencial. “Tive de passar por cima de estereótipos dados à mulher e para isso é preciso muito profissionalismo e apresentar resultados. Contra isso não há desculpas”, diz.
Com essa determinação, Trícia atingiu um patamar salarial ainda restrito a muitas mulheres. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, apenas 30,7% das contratações para vagas com remuneração de dez salários mínimos (R$ 5,1 mil) ou mais feitas entre janeiro e julho deste ano foram ocupadas por mulheres.
Dependendo do setor, fica mais evidente a dificuldade que a mulher tem para ascender profissionalmente e conseguir remuneração mais elevada. Na construção civil, por exemplo, foram 288 mulheres contratadas para esse patamar salarial ante 1.541 homens.
“Nas áreas mais tradicionais, ainda há a resistência à mulher, como a indústria metalúrgica ou construção civil. Já outros setores assimilam melhor a presença da mulher em altos cargos, como saúde e educação. No setor administrativo a mulher conseguiu conquistar espaço, assim como obteve avanço na área de direito”, afirma o professor de relações trabalhista da Faculdade de Administração e Economia (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Arnaldo Mazzei Nogueira.
Para o especialista, essa menor participação delas em alguns segmentos ocorre desde a escolha da formação, pois elas já tendem a optar por profissões em que sofrerão menos preconceito e resistência. “Nas faculdades já vemos cursos em que há mais mulheres do que homens. Isso se repete no mercado de trabalho.”
Mas a ascensão delas também está ligada à realização como mulher. “Quando ela atinge o nível gerencial e de direção, pesa a questão de se dedicar ao trabalho ou cuidar da família, ser mãe. E algumas optam por ficar com a família e se comprometer menos com a carreira”, explica Nogueira.
No caso de Trícia, dedicar-se à carreira foi algo tão natural que o tempo passou e agora ela busca se realizar como mãe. “Me arrependo de não ter dado o mesmo peso para as duas partes. Me dediquei muito à vida profissional, mas agora quero ser mãe”, conta.
Para Denise Poiani Delboni, professora de relações do trabalho da faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), outra questão que pesa contra elas é a licença-maternidade. “Para o empregador, se a mulher sair de licença por quatro ou seis meses, haverá um custo para que ela seja substituída. Por isso ela pode não subir de cargo”, diz.