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Música e Trabalho: Roberto Ribeiro canta “Cabide de Molambo”

 

Cabide de Molambo
Composição: João da Baiana/1932
Intérprete: Roberto Ribeiro

Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado
A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira
Meu Deus, meu Deus
Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado
A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira

Minha camisa
Foi encontrada na praia
A gravata foi achada
Na ilha da Sapucaia
Meu terno branco
Parece casca de alho
Foi a deixa de um cadáver
Num acidente de trabalho

Meu Deus, meu Deus
Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado
A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira

E o meu chapéu
Foi de um pobre surdo e mudo
As botinas foi de um velho
Da revolta de Canudos
Quando eu saio a passeio
As almas ficam falando
Trabalhei tanto na vida
Pro malandro estar gozando

Meu Deus, meu Deus
Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado
A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira

A refeição
É que é interessante
Na tendinha do Tinoco
No pedir eu sou constante
Seu português
Meu amigo sem orgulho
Me sacode um caldo grosso
Carregado no entulho

Meu Deus, meu Deus
Meu Deus eu ando
Com sapato furado
Tenho a mania
De andar engravatado
A minha cama é um pedaço de esteira
E uma lata velha, que me serve de cadeira.

 

Análise da letra

Sem recursos para comprar suas coisas, o sambista vive daquilo que ele consegue juntar. Vive no improviso. Uma lata como cadeira, uma esteira como cama. Seu terno é de um falecido, que morreu em um acidente de trabalho, as botinas, de um velho de Canudos.

Com isso ele mostra a condição do povo pobre, desprovido de bens, que tem que se virar para viver. Faz referência ao acidente de trabalho, algo corriqueiro na era pré-CLT. E à revolta de Canudos, um episódio que parece tão distante, mas que no início dos anos de 1930, tinha pouco mais de 30 anos.

Naquele período, ainda marcadamente rural, mas que começava a apresentar sinais de urbanidade, os sacrifícios do povo ficaram em evidência.

A perda de identidade e as transformações do meio, que se industrializava, revelaram-se em artes e canções através das quais podemos refletir sobre a nossa história.

Fonte: Centro de Memória Sindical