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O Nobel da Paz brasileiro

ELIANE CANTANHÊDE

BRASÍLIA – Zilda Arns foi o que todas nós, ou muitas de nós, gostaríamos de ser ou de ter sido: uma mulher de infinita dedicação às suas crianças, à sua gente, ao seu país e ao seu mundo.

Ela morreu como viveu: chacoalhando em desconfortáveis jipes militares, aos 75 anos, numa guerra contra a pobreza, a sujeira, a ignorância. A favor da vida. Morreu para que tantos outros vivessem no pequeno Haiti, o mais miserável país da América Latina, quase um encrave da África pobre na região.

Médica, especializada em educação física e pediatria, coordenadora da Pastoral da Criança da CNBB, Zilda foi indicada três vezes pelo Brasil para o Prêmio Nobel da Paz.

Merecia, e seria uma honra para cada um de nós. Mas ela não era só brasileira, era do mundo.

Suas soluções simples, baratas e enormemente eficazes cruzaram fronteiras e foram salvar vidas em 15, 20 países pobres da América Latina e da África. Coisas assim como lavar as mãos, tomar banho, aproveitar os alimentos até o último detalhe. Quem não leu sobre macerar cascas de ovos para adicionar cálcio à alimentação de pobres? Quem não sabe da mistura caseira para salvar crianças de desnutrição e desidratação?

Sua história e seus ideais se confundem com os de um ícone mundial, que foi Madre Tereza de Calcutá. Mas Zilda não era freira, não usava hábito e dedicou sua vida à vida alheia, mantendo-se bonita, vaidosa, imensamente feminina. Não interpretou um papel. Era apenas ela mesma em ação.

Se Zilda Arns tivesse morrido de uma doença qualquer, de um acidente qualquer, mesmo assim sua morte teria imensa repercussão e geraria uma tristeza nacional. Quis o destino, ou a sua saga, que ela morresse no Haiti, num terremoto.

Torna-se, portanto, uma personagem única, cercado por símbolos e exemplos que deixam marcas, rastros. Zilda, definitivamente, não passou pela vida em vão.