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Os conflitos e a infância roubada

Quase dois anos após a anexação à força da península da Crimeia pela Rússia e 12 meses depois da assinatura do Acordo de Minsk, a Ucrânia ainda luta para se reestruturar, pressionada política, militar e economicamente. Enquanto isso, “danos colaterais” do conflito se acumulam. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) calculou na semana passada que ao menos 580 mil crianças vivem hoje em áreas não controladas pelo governo, próximas à fronteira leste do país. É praticamente um exército formado por meninos e meninas que tiveram sua infância roubada.

As condições extremas de pobreza e abandono a que estão submetidas essas crianças – como frio intenso, infraestrutura deficiente, acesso precário a água potável, falta de condições sanitárias e de remédios – levam a organização a estimar que um em cada três menores (200 mil) precisam de assistência psicológica urgente.

Cada estatística levantada dá uma fotografia terrível da situação: 215 mil foram desalojadas de suas casas, uma em cada cinco escolas na região foi destruída ou atingida por bombardeios e, após 19 anos, um surto de poliomielite foi identificado no país. Isso sem contar a violência física. No ano passado, mais de 20 crianças foram mortas e outras 40 foram feridas diretamente na guerra. Outras 28 perderam a vida em acidentes com minas terrestres e outras causas similares.

Não foi exagero quando a própria Unicef alertou que 2014 havia sido o ano mais devastador para infância na história do órgão, criado em 1946 para atender crianças vítimas da 2ª Guerra Mundial. A situação de vulnerabilidade só tende a piorar. No ano passado, 16 milhões de bebês nasceram em zonas de conflito em todo o mundo.

Além da situação presente devastadora, rouba-se também o futuro de uma geração. Na Nigéria, que enfrenta os ataques do grupo radical Boko Haram, cerca de 600 professores foram assassinados. Nas regiões da África Ocidental e Central, mas de 2 mil escolas estão fechadas e perto de 11 milhões de crianças não frequentam aulas. Assim perpetua-se a violência e a miséria.