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Para economistas, governo dá sinais de que será mais austero em 2015

De acordo com economistas, alta inesperada da Selic e sinalização de mudança no titular do Ministério da Fazenda indicam mais austeridade na condução da economia em 2015

Paula Salati

São Paulo – Especialistas avaliam que a política monetária será mais restritiva no próximo ano. Uma das sinalizações, segundo eles, foi a elevação inesperada da taxa de juros básica da economia (Selic), na última quarta-feira, a 11,25% ao ano.

O sócio da Troster Associados, Roberto Luís Troster, diz que o governo já deu dois sinais positivos que indicam mudanças na condução da economia. Um deles foi na segunda-feira, quando a presidente Dilma Roussef anunciou que fará troca no titular do Ministério da Fazenda.

“O outro sinal positivo foi a alta de juros, mostrando um comprometimento maior do governo com a política econômica mais convencional”, diz Troster. “No entanto, é preciso esperar para saber quem ela vai indicar para a Fazenda, se vai trocar seis por meia dúzia ou se vão ocorrer mudanças”, completa.

Recado

O professor de macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão, também ressalta que é preciso esperar a nomeação da nova equipe de política econômica do governo para traçar cenários mais precisos. No entanto, avalia que a alta dos juros “reforçou uma ponte” entre a atual equipe e a que vier assumir em 2015. “Com isso, o governo diz para o mercado: olha, eu estou em período de transição, mas isso não significa que estou parado aqui sem fazer nada, olhando a banda passar”, comenta Paixão.

Na análise do professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Milton Pignatari, a única certeza que se pode ter com relação ao próximo ano é que teremos austeridade na política econômica. “A tendência é que haja mais aumento de juros, até pelo patamar ruim em que a política fiscal e cambial se encontram hoje. Mas não sabemos ainda como será feita a elevação da Selic”, afirma Pignatari.

“O que podemos verificar é que, realmente, vai haver mais austeridade na política econômica. No entanto, mesmo que essas medidas sejam impopulares, em início de mandato, são mais fáceis de serem implementadas. […] O governo só vai começar a se preocupar com ações mais populares daqui a três anos”, complementa.

Pignatari diz que a alta de juros pelo governo foi importante para mostrar ao mercado preocupação com o desempenho da alta de preços. Mas diz que, o cenário econômico do País, vai depender das medidas que vierem atreladas ao aperto monetário.

Ele cita que a medida provisória (MP) 651 aprovada pelo Senado, na última quarta-feira, que desonera a folha de pagamentos de vários setores, ação que poderia estimular a economia brasileira, aguarda sanção da presidente na próxima quinta-feira.

O professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, (FGV-EESP), Clemens Nunes, diz que o governo precisa sinalizar, antes do final desse ano, que fará ajuste fiscal em 2015. “É fundamental essa sinalização. Pois é preciso definir uma trajetória de como recuperar superávit primário para um nível sustentável em relação à dívida pública”, diz.

Além disso, o economista da FGV lembra que as agências de grau de investimento também estão esperando apontamentos no campo fiscal.

Nunes defende também mais alta de juros, mesmo com baixa atividade econômica já esperada para o próximo ano. “Aumento de juros é um remédio amargo. Se você começa a elevar a Selic agora, a expectativa dos agentes econômicos é que a inflação será declinante em 2015”, afirma ele.