ELIANE CANTANHÊDE
BRASÍLIA – Do jeito que a coisa vai, Dilma pode chegar ao fim do ano mais candidata a unanimidade do que o próprio padrinho Lula. Os bancos estão saciados, os economistas, crédulos, e a população não reclama. A imprensa nacional é cheia de elogios, a internacional já badala até o seu “charme”.
A oposição? Os aecistas estão mais ocupados em assumir o comando, e os serristas, mais preocupados com a própria sobrevivência.
E o Congresso? A vitória do salário mínimo de R$ 545 era mais do que previsível. Presidentes aprovam tudo o que bem entendem em início de mandato e os partidos aliados ao Planalto somam 388 dos 513 deputados. Enquanto Dilma continuar com essa bola toda na opinião pública, ninguém se move.
É por isso que a novidade da votação do mínimo foi a volta das centrais sindicais ao campo político, criando a expectativa de que é um aquecimento e que vieram para ficar. O jogo só está começando.
Não que a Força Sindical, a CGT e muito menos a CUT ameacem formar um time contra Dilma, mas tomara que joguem como craques políticos, mantenham as reivindicações tradicionais e saibam fazer pressão, recuperando a musculatura: centrais agem pró-trabalhadores e tensionam governos.
O incrível índice zero de traição do PMDB (nenhum dos seus 77 deputados votou contra o governo) é um recado, ou melhor, um triplo recado: o vice Michel Temer jamais esteve tão forte, o segundo partido da Câmara tem comando e está unido. Unido, frise-se, para o que der e vier. Hoje, com tudo indo bem, são todos a favor. E amanhã, se tudo não estiver mais tão bem?
Aí, é bom mesmo, até para a própria Dilma, que as centrais sindicais estejam em campo. O PMDB é aliado na boa, mas pode se tornar adversário na baixa. As centrais tendem a fazer o caminho inverso. E elas têm tropa, têm rua.
Dilma está firme e forte, mas nunca se sabe o dia de amanhã.