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Sindicatos negociam reajuste salarial de até 11%

Com forte crescimento, petroleiros, bancários e metalúrgicos pedem aumento maior. Centrais e Dieese unificarão reivindicações

Lino Rodrigues

SÃO PAULO. Apostando em um crescimento acima de 7% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) este ano, os sindicalistas elevaram o percentual de aumento real reivindicado para os trabalhadores com data-base neste segundo semestre. Com o cenário de crescimento econômico forte, os índices pularam de 1,5% a 2%, conquistados no ano passado, para 5% a 11% este ano.
Os petroleiros, por exemplo, que abriram negociações com a Petrobras na última segundafeira, estão reivindicando aumento real de 10%, mais a reposição integral da inflação. Já os bancários, que haviam obtido pouco mais de 1% em 2009, fizeram uma consulta e apontaram o índice de 5% real, mais a inflação acumulada.
— É a oportunidade de recuperar o que perdemos durante a crise — argumentou o presidente interino da Força Sindical, Miguel Torres.

Dieese vai apresentar estudo com principais dados

Além da puxada nos índices, as principais centrais sindicais do país (CUT, Força Sindical, UGT, CTB) estão articulando, com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a unificação de alguns pontos da pauta de reivindicação das categorias de trabalhadores com data-base neste segundo semestre do ano. A ideia, inédita, faz parte da estratégia de ganhar musculatura e articulação para pressionar as empresas por reajustes maiores, aproveitando que as negociações envolvem as categorias com maior poder de mobilização — caso dos bancários, metalúrgicos, comerciários, petroleiros e químicos.
Também querem aproveitar o ambiente de economia em expansão no país para elevar o número de categorias de trabalhadores com reajustes acima da inflação. No ano passado, 20% dos reajustes salariais das 692 negociações pesquisadas pelo Dieese ficaram iguais ou abaixo do percentual acumulado da inflação.
Em 2007, esse índice foi bem menor, de 12,4%.
— A unificação será mais na pauta (de reivindicações) do que na ação — adiantou o secretário-geral da CUT, Quintino Severo, que espera para o fim de julho o sinal verde das centrais para disparar a nova estratégia de negociação com as entidades patronais.
Até lá, além de juntar os pontos convergentes das pautas de reivindicações das mais de cem categorias que estarão negociando acordos salariais até o fim do ano, o Dieese também se comprometeu a apresentar um estudo com os principais dados econômicos do país, que servirá de base para que os sindicalistas estabeleçam um percentual de referência para ser apresentado às entidades patronais como aumento real de salário. Esse documento também vai servir para subsidiar os sindicatos nas argumentações econômicas durante as rodadas de negociações com o empresariado.
— Estamos montando um conjunto de indicadores econômicos para subsidiar as negociações e construir um percentual para ser trabalhado pelos sindicatos como ganho real — disse José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese.

Sindicatos podem unificar pauta da redução de jornada

Entre as cláusulas que poderão ser unificadas nas negociações estão a redução da jornada, a melhoria das condições de trabalho, questões envolvendo a terceirização, Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e o aumento dos pisos salariais. Segundo Torres, da Força, a estratégia já é utilizada dentro das centrais que unificam a pauta de categorias da mesma área. A novidade é que agora as ações serão partilhadas entre as centrais sindicais, trocando experiências e até compartilhando equipamentos como carro de som, por exemplo.
— Vamos aproveitar o momento para unificar a luta dos trabalhadores por salários melhores, mostrando que temos unidade. A unicidade vai se dar nos interesses comuns.
Ninguém vai interferir na base de cada central — defendeu Torres, citando as campanhas conjuntas para redução de jornada de trabalho e aumento do salário mínimo e dos aposentados como exemplos de iniciativas unificadas.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (berço político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), Sérgio Nobre, a unificação da pauta pode ser o início de um novo ciclo nas negociações entre trabalhadores e empresários.
Com a economia estabilizada e em expansão, Nobre defende que as cláusulas econômicas também sejam acordadas por prazos mais longos, a exemplo do que já acontece com algumas cláusulas sociais.
— Estamos vivendo outro ambiente econômico. Precisamos amadurecer e avançar para modelos mais modernos de negociação — avaliou o sindicalista, para quem o atual modelo de negociar “perdeu o sentido”