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SP abraça queda de juros

Luiz Prado/LUZ

Paulo Pereira da Silva, da Força SIndical, e Paulo Skaf, presidente da Fiesp:
juntos por uma boa causa

Karina Lignelli

O prometido abraço simbólico não aconteceu. Mas, se  obras impediram empresários, dirigentes sindicais e economistas de “envolver” o prédio do Banco Central (BC) na Avenida Paulista, não impediram de se unirem pelo mesmo objetivo: protestar contra os juros altos e pressionar o governo a reduzir a Selic em um momento estratégico um dia antes de sair o resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a nova taxa básica de juros

O “Manifesto por um Brasil com menores juros, maior produção e mais emprego”, que reuniu representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Força Sindical, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), arrancou dos presentes a promessa de se reunirem sempre um dia antes dos próximos anúncios do resultado das reuniões do Copom.

Atraída pela manifestação, a copeira Áurea Galdino, que acabava de sair do trabalho, concordou com o protesto. “É ótimo, tem que lutar para fazer diferença. Tudo no Brasil é absurdo: juros, impostos… Não tem folga para ninguém”, afirmou ela, que garante fazer sua parte (contra política de juros altos) parcelando o mínimo possível ou se esforçando ao máximo para comprar à vista.

Atender às carências do País em infraestrutura, transporte, telecomunicações e educação  em vez de de manter os juros mais altos do mundo, pediam os manifestantes. Hoje, o pagamento dos encargos da dívida consome cerca de 36% do Orçamento Geral da União, lembrou o presidente da Fiesp Paulo Skaf, para quem a redução significativa da taxa pode equilibrar os cofres públicos.

“O governo vai pagar neste ano cerca de R$ 250 bilhões com juros da dívida, enquanto a saúde recebe apenas R$ 72 bilhões e a educação menos de R$ 60 bilhões. É hora de quebrar paradigmas para defender os interesses do País”, afirmou Skaf, se referindo à união entre empresários e dirigentes sindicais da CUT e da Força Sindical para protestar.

Já o presidente da Abimaq Luiz Aubert Neto, lembrou que, em 17 anos (nos governos FHC, Lula e Dilma), o Brasil pagou R$ 2 trilhões em juros, considerada por ele “a maior transferência de renda da história do capitalismo neste planeta”. “É o mesmo que entregar todo o faturamento da indústria automobilística ao sistema financeiro. A Selic não tem nada a ver com consumo, produção, geração de empregos. E o empresariado precisa deixar de ser omisso”, frisou.

Representando os trabalhadores, o deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho – um dos principais articuladores do manifesto, junto com Skaf –, propôs que no dia em que os  “burocratas discutem o que vão fazer da nossa vida”, o Brasil todo proteste “não trabalhando”. Foi aplaudido pelos presentes, incluindo empresários. “Aumentar juros é segurar salário e crescimento. E isso não dá para concordar”, disse.

Redução justificável – A não necessidade de aumentar juros para conter a inflação é uma das principais justificativas dos manifestantes, sustentada pelos economistas presentes. Tudo isso por conta das incertezas do mercado internacional, da redução dos preços das commodities e das projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5% – que abrem oportunidade para reduzir juros e não “importar” a crise.

“As condições internacionais permitem a redução de juros, mas o BC tem autonomia questionada quando baixa as taxas. É necessário torná-lo independente em relação ao mercado. Mais do que contrários, somos um movimento a favor de o Brasil se desenvolver”, disse o professor de Economia da PUC-SP Antônio Corrêa Lacerda.

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor da Unicamp Marcio Pochmann é da mesma opinião. Segundo ele, tecnicamente não há justificativa para juros tão elevados, e o que impede que a taxa se torne aceitável é “o medo de ousar.”

“O Brasil precisa abandonar a trajetória de ´voo de galinha´ dos anos 1980 e 1990 e transitar entre os investimentos produtivos e a geração de empregos.  Ou vai abandonar a marca do desenvolvimento “, alertou  Pochmann.