Pesquisa da Associação das Empresas de Refeição mostra que o preço médio dos almoços de trabalhadores em restaurantes na cidade de São Paulo é de R$ 19, enquanto o valor médio dos tíquetes-alimentação é de R$ 10
PAULO DARCIE, paulo.darcie@grupoestado.com.br
Em São Paulo o vale-alimentação só dura até o meio do mês. Pesquisa realizada pela Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert) divulgada ontem mostra que o valor médio da refeição em São Paulo é de R$ 19, enquanto o benefício concedido por empresas para a alimentação dos funcionários é, em média, de R$ 10 por dia de trabalho.
A pesquisa entrevistou 3.224 responsáveis por restaurantes em 23 cidades das cinco regiões do País. Foram incluídos restaurantes filiados a pelo menos uma empresa operadora de benefícios e que trabalhem com pratos a la carte, prato feito, executivo ou refeições por peso. O resultado foi um preço médio nacional de R$ 18,20 para refeições que incluem prato principal, salada, uma bebida não alcoólica, sobremesa e cafezinho. O valor é 11% maior do que os R$ 16,30 encontrados por outra pesquisa da Assert realizada entre janeiro e fevereiro de 2009.
O levantamento confirma tendência demonstrada pelos números do IPCA do ano passado, que apontam a refeição fora do domicílio como uma das principais vilãs da inflação, encarecendo 9,05% e contribuindo com 0,37 ponto porcentual no índice anual de 4,31%.
Segundo a Assert, aproximadamente 6 milhões de trabalhadores recebem o benefício no Brasil, 80% deles têm remuneração abaixo de cinco salários mínimos.
O poder de compra do trabalhador no restaurante, no entanto, caiu nesse período. Segundo o presidente da Assert, Arthur Almeida, o valor médio do benefício não tem se alterado significativamente nos últimos anos, e se manteve em R$ 10. Se forem adotadas as médias de R$ 19 para a refeição e de R$ 10 para o vale, quem trabalha 20 dias por mês ainda precisa desembolsar R$ 180 por mês para se alimentar. “No ano passado, a prioridade, tanto dos trabalhadores quanto dos sindicatos nos acordos, era a manutenção do emprego. Houve pouco espaço para essa reivindicação”, diz.
Aperto
Para quem ganha o vale, a briga para encaixar o preço da refeição no orçamento é diária. O webdesigner Bruno Alves, de 26 anos, trabalha na região da Avenida Paulista e recebe R$ 7 por dia para almoçar, valor insuficiente. “Dá pra almoçar só até o meio do mês. Gasto o dobro disso em cada almoço aqui na região”, afirma ele.
A auxiliar administrativa Angélica Rodrigues, de 29 anos, recebe um vale maior, mas mesmo assim acha insuficiente. “Um prato com salada custa R$ 20, e meu vale é de R$ 14. Chega até o dia 20”, conta. Sua estratégia para fazer o benefício render é migrar de restaurante, para opções mais baratas, conforme o mês avança. “Vou para um ali da rua de baixo, que sai mais em conta.”
Já Adilson Queibre, de 25 anos, que trabalha em uma financeira e recebe R$ 16,88, consegue ainda levar um troco por dia após o almoço. “Sempre peço os pratos mais baratos, que custam R$ 12, tomo um refrigerante e gasto uns R$ 15”, diz ele.
Dentre as categorias de trabalhadores, os bancários são os que recebem benefícios mais próximos da média: em todo o Brasil o valor é R$ 16,88 por dia. “Para o interior o valor é suficiente, mas para regiões como a Avenida Paulista, não”, afirma o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino.
“Consideramos esse o modo mais democrático de conceder a refeição. Nos acordos, priorizamos os reajustes de vale-alimentação e refeição ao salarial. Se eles aumentam, o bancário tem mais dinheiro para outras coisas”, diz. A última revisão do valor, em setembro passado, foi de 6%.
Comerciários têm benefício garantido apenas de domingos e feriados, apesar de empresas de grande porte, geralmente, o concederem para todos os dias de trabalho. “Varia entre R$ 12 e R$ 21”, afirma o presidente do sindicato da categoria, Ricardo Pattah. “Neste ano, para a convenção coletiva, vamos tentar caminhar rumo ao vale todo dia.” Ele acrescenta que o vale-alimentação é a segunda reivindicação, atrás apenas de cesta básica, nas consultas a filiados.
Dentre os metalúrgicos a situação é diferente: o sindicato não negocia em convenção pois grande parte das empresas tem refeitórios. Caso contrário, o valor do benefício é avaliado pela própria empresa, com base nos preços de refeições na região.
CARTÃO NA MÃO
6 MILHÕES é o número de trabalhadores que recebem vale refeição no Brasil, e 80% ganham menos de cinco salários mínimos