Ao contrário da indústria de automóveis e caminhões, o segmento de motocicletas ainda não dá sinais de recuperação nas vendas. Culpa, em primeiro lugar, da restrição de crédito para a compra dos veículos de duas rodas, afirmam as entidades do setor.
A Associação Nacional de Fabricantes e Atacadistas de Motopeças (Anfamoto) já prevê um aumento do número de demissões. A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) afirma que as vendas podem ficar abaixo do resultado de 2011.
Dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) referentes à primeira quinzena de junho mostram que os emplacamentos de motos recuaram 8,97% na comparação com o mesmo período de maio e caíram 19,69% ante a metade inicial de junho de 2011. A venda de automóveis apresentou altas de, respectivamente, 24,14% e 29,10% nesses mesmos períodos, após quedas anuais registradas desde fevereiro.
No caso dos caminhões, apesar de expressivo recuo de 27,95% sobre a primeira metade de junho de 2011, houve uma recuperação na margem, de 4,95%, o que indica reação após recentes ações de incentivo do governo ao setor automotivo.
ALAVANCAGEM
De acordo com o presidente da Anfamoto, Orlando Leone, as empresas de peças registraram em maio queda nas vendas de 22% na comparação com o mesmo mês de 2011.
O dirigente estima um aumento das demissões no saldo líquido de emprego do setor em 2012 em relação ao ano passado. Segundo ele, a indústria de motopeças emprega 50 mil pessoas no País. Se contar os postos de trabalhos indiretos, esse número sobe para perto de 100 mil.
O que no começo do ano era uma expectativa de alta de 5% nas vendas, hoje tornou-se retração – sem valor estimado – ante 2011 Foram vendidas no ano passado, 1.940.564 unidades (7,58% a mais que em 2010).
A Abraciclo afirma que a restrição de crédito atinge o segmento de motos com mais força que a indústria de automóveis e comerciais leves, já que o público-alvo é formado por consumidores das classes D e E. “Quase 80% das vendas de motocicletas ocorrem por meio de pagamentos parcelados de financiamentos ou consórcios”, explica o diretor executivo da entidade, José Eduardo Gonçalves.
Uma diferença do consumidor de automóveis para o de motocicletas é que o primeiro, na maioria dos casos, tem emprego com carteira assinada e casa própria, o que facilita a obtenção de financiamento para a compra do veículo. “O entregador e o motoboy geralmente não têm carteira assinada, telefone fixo e residência própria”, afirma Leone, da Anfamoto. A indústria só sairá desse impasse, na opinião de Leone, se o governo der garantias aos bancos no mercado de crédito.