Por Arno Schuetze e Marilyn Gerlach | Reuters, de Frankfurt
Hiesinger, primeiro presidente-executivo da ThyssenKrupp
sem histórico no setor siderúrgico, estaria pressionando
para a venda das operações europeias de aço
Se a ThyssenKrupp não encontrar um comprador para os ativos siderúrgicos nas Américas, o grupo pode considerar a opção politicamente desagradável de vender as operações de produção de aço na Europa, disseram fontes do setor financeiro. A venda das operações de aço pode focar o grupo nas próprias divisões de tecnologia, que produzem desde fábricas industriais e elevadores a submarinos, o que deixaria a empresa menos exposta a ciclos econômicos.
A Thyssen disse, em maio, que considerava a venda ou parceria para a Steel Americas – formada pela Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e por usina nos Estados Unidos – para gerar recursos e reduzir dívidas, mas o interesse pelos ativos tem sido morno.
“O plano B é buscar solução para toda a área de aço”, disse fonte do setor bancário, citando dificuldades em encontrar comprador ou mesmo parceiro para a Steel Americas, em um setor afetado por excesso de capacidade produtiva.
“A administração está considerando opções no caso (de um acordo) para Steel Americas não der certo”, disse a fonte. “Eles simplesmente têm que fazer isso. A resposta inicial de possíveis compradores é muda, e a administração não pode ficar em uma posição de negociação em que um comprador remanescente pode chantageá-la em um acordo”, disse a fonte.
Potenciais compradores para as usinas da Thyssen nas Américas incluem a sul-coreana Posco, Vale e ArcelorMittal, mas elas não pagariam nada parecido com os quase € 11 bilhões que a ThyssenKrupp investiu nas usinas. “Se a venda correr bem, eles poderiam obter € 4 bilhões”, disse uma das fontes.
Duas outras fontes do setor bancário com conhecimento da estratégia da Thyssen afirmaram que uma venda da divisão europeia de aço seria possível no próximo ano, no caso de uma recuperação da economia, e acrescentaram que o grupo pode buscar um comprador alemão para evitar dificuldades políticas decorrentes da vendas de uma divisão responsável por 29 mil empregos.
A venda da divisão europeia de aço seria possível em 2013, no caso de uma recuperação da economia
A Thyssen negou ontem que esteja considerando vender as operações siderúrgicas na Europa, mas fontes afirmaram que os escalões mais altos do grupo estão avaliando a operação. “[O presidente-executivo Heinrich] Hiesinger e [o diretor financeiro Guido] Kerkhoff estão pressionando para a venda das operações europeias de aço. Isso provavelmente deve ocorrer em 2013”, disse uma das fontes. A outra fonte afirmou que “a venda da Steel Americas é apenas o primeiro passo. O segundo será a venda dos negócios de aço na Europa”.
Outra fonte no setor bancário, que trabalhou com a Thyssen no passado, disse que a companhia poderá obter um preço maior se as operações de aço na Europa e nas Américas forem vendidas em um só pacote. “O processo de venda da Steel Americas tem sido complicado e vai continuar muito difícil”, disse a fonte. “A venda da Steel Europe deve ser tão difícil quanto”, acrescentou.
Hiesinger, primeiro presidente-executivo da Thyssen sem histórico no setor siderúrgico, tem liderado esforços do grupo para reduzir o tamanho do conglomerado. Ele afirmou em maio que a companhia poderia vender ativos não essenciais que geram vendas de € 10 bilhões (US$ 12 bilhões), com a área de aços inoxidáveis sendo a maior deles, até setembro.
O analista Rochus Brauneiser, da Kepler Markets, afirmou que a venda da Steel Americas reduzirá dívida para nível mais aceitável, mas somente a completa saída do setor poderia criar espaço de manobra para o crescimento das atividades de produção de bens de capital. “Consideramos esta decisão de rever os negócios da Steel Americas como primeiro passo para uma retirada do grupo do aço.”
No ano passado, a Steel Europe teve lucro antes de juros e impostos (Ebitda, na sigla em inglês) de € 1,13 bilhão e vendas de € 12,81 bilhões, quase um quarto do faturamento total do grupo, excluindo a área de inoxidáveis.
As fontes afirmaram que a companhia já está considerando os impactos políticos da venda da maior produtora de aço da Alemanha. “É uma questão muito política. É o coração da Thyssen [aço na Europa], é a origem da companhia”, disse Dirk Schlamp, analista do DZ Bank. Ele definiu o valor da unidade atualmente em € 3,5 bilhões, com um melhor cenário chegando aos € 6,5 bilhões.
Um representante do sindicato, que pediu para não ser identificado, informou que a companhia afirmou aos trabalhadores que a Steel Europe não seria vendida e acrescentou que os metalúrgicos “vão lutar contra, se necessário”.
Para tornar a venda aceitável para trabalhadores e políticos, a Thyssen poderia buscar compradores potenciais dentro da Alemanha ou um controlador que compartilhe das mesmas raízes culturais, afirmaram as fontes.
Elas afirmaram que a Salzgitter, segunda maior siderúrgica da Alemanha e parcialmente controlada pelo Estado federal da Baixa Saxônia, poderia ter um papel importante. “O fato da Salzgitter ser parcialmente controlada pelo Estado ajudaria a criar uma solução alemã”, disse uma das fontes.