Brasil Econômico
Gustavo Machado
Partes das fábricas que estão paradas garantem produção até 2015 sem a necessidade de novos investimentos.
Executivos ligados ao setor de autopeças preveem que a capacidade de produção das companhias é suficiente para atender a demanda do segmento até 2015 sem a necessidade de novos investimentos.
Isso porque há grande capacidade ociosa no ramo, em razão da queda na produção do setor automotivo.
Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), a ociosidade nas empresas chegou a 23,6% em junho. Porém, de acordo com o presidente da instituição, Paulo Butori, algumas companhias estão com até 40% das máquinas desligadas.
A Schrader International, fabricante de válvulas pneumáticas, por exemplo, está com 30% de sua linha de produção parada na fábrica de Jacareí, no interior de São Paulo, segundo o diretor da empresa, Carlos Storniolo.
O executivo garante ter condição de abastecer o setor por um período até mais longo do que 2015 sem fazer investimentos. A explicação dele está no terceiro turno. “Meu terceiro turno só existe para não desligar a caldeira”, diz Storniolo.
Storniolo indica que, além da queda da produção de novos automóveis, o setor de reposição está sofrendo com a concorrência de importados. Como suas peças são padronizadas, empresas do sudeste asiático possuem condição favorável para competir com os fabricantes nacionais.
Porém, denuncia Storniolo, muitas vezes a concorrência é desleal. “No mercado de reposição não é necessário atender algumas normas que as montadoras exigem. Perdi mercado porque não dá para competir com produtos irregulares.”
Os investimentos se tornaram desnecessários, diz um executivo de uma fabricante de radiadores. O nível de utilização de capacidade instalada, segundo ele, está muito baixo. “Cerca de duas em cada dez linhas de produção estão paradas”, diz.
As companhias responsáveis pela produção de peças padronizadas – aquelas que são utilizadas por um grande número de automóveis – são as que mais sofrem com a baixa atividade do setor. De acordo com o diretor da SAE Brasil, Francisco Satkunas, estes itens correspondem a 40% de um veículo.
Neste ano, as receitas do setor já caíram 7,6%, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).
Satkunas explica que, durante o “boom” do setor automotivo até 2008, muitas companhias projetaram produção acima do que é necessário hoje. Investiram fortemente à época e agora veem boa parte das plantas ociosas. “Antes da crise, projetamos a fabricação anual de 5 milhões de veículos em 5 anos. Agora, essa previsão foi postergada para 2015, mas as linhas de produção estão lá”, afirma.
De acordo com estimativas feitas pela consultoria LCA, as vendas de veículos no país devem crescer de 2% a 5% nos próximos quatro anos e serão acompanhadas pela produção.
Satkunas afirma que o futuro dos investimentos do setor no país será em tecnologia. “Não se investe em tecnologia sem contratos. Com o novo regime automotivo, as companhias serão obrigadas a investir em carroceria e motor, que correspondem a grande parte de um veículo”, explica Satkunas.