Olimpíada tira Reino Unido da recessão

Crescimento de 1% é o maior em cinco anos e interrompe sequência de quedas do PIB

25 de outubro de 2012 | 21h 52

Jamil Chade, correspondente de O Estado de S. Paulo

GENEBRA – Entre todas as medalhas que os britânicos conquistaram nos Jogos Olímpicos de 2012, a mais importante – pelo menos para a sobrevivência do governo – foi anunciada apenas nesta quinta-feira. Alavancada pela Olimpíada, a economia do país superou a recessão mais longa em 60 anos e viu o Produto Interno Bruto (PIB) crescer 1% no terceiro trimestre, a maior expansão em cinco anos. Economistas e oposição, porém, advertem que o impacto do evento esportivo não sobreviverá aos último trimestre de 2012.

A recuperação é um forte contraste com a contração de 0,4% observada no segundo trimestre, confirmando que a dupla queda da economia britânica – em 2009 e 2012 – era a mais longa desde os anos 50. Além disso, o PIB britânico vinha em queda desde o quarto trimestre de 2011. O evento esportivo na capital britânica em meados do ano permitiu que a taxa de crescimento superasse as previsões do mercado, que esperava crescimento de 0,6%.

Há dois dias, os organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres já haviam anunciado que o evento ficou abaixo do orçamento previsto, numa indicação de que os esforços de redução de custos funcionaram.

Ontem, o primeiro-ministro David Cameron não desperdiçou a ocasião para capitalizar o anúncio. “Esses números do PIB mostram que estamos no caminho correto e nossa economia está se recuperando.”

Crescimento zero

Mas entre analistas de mercado a avaliação é de que eventos extraordinários – como os Jogos Olímpicos e as festas pelos 60 anos de reinado de Elisabeth II – camuflaram uma realidade ainda preocupante. Em comparação com o terceiro trimestre de 2011, o aumento do PIB foi zero. Em 2012, o crescimento da economia é de apenas 0,3% e o PIB do país continua 3,1% abaixo dos níveis de 2008.

Ao contrário do que o governo tenta argumentar, analistas e oposição dizem que o impacto da Olimpíada não deve ser mantido no médio prazo e os números de ontem não significam que a crise tenha sido superada. Para muitos, as promessas de que os Jogos dariam novo impulso à economia não serão confirmadas.

O setor de serviços britânico – que responde por mais de três quartos do PIB – subiu 1,3% no terceiro trimestre, depois de cair 0,1% no segundo. Já a produção industrial cresceu 1,1%, a alta mais forte desde o segundo trimestre de 2010. Mas o setor da construção – que representa 7% do PIB – recuou 2,5%.

Para a City londrina, dificilmente os mesmo números se repetirão nos próximos meses. “O perigo é de que esses números alimentem uma crença de que a economia esteja sendo arrumada, quando na verdade não há nenhum sinal nessa direção”, alertou Chris Williamson, da empresa Markit. Segundo ele, há um risco real de uma nova contração já no quarto trimestre.

No próprio Tesouro britânico, economistas admitem que a taxa de expansão dificilmente se repetirá. “Os dados são bem-vindos”, disse Howard Archer, da consultoria IHS Global Insight. “Mas não significam em hipótese alguma que a crise esteja sendo superada.”

Para a oposição, a comemoração do governo pode ser prematura e o ouro da medalha pode não durar por muito tempo. Ed Balls, um dos líderes da oposição, diz que o país não pode depender de eventos isolados, como os Jogos Olímpicos. “O crescimento continua fraco e a economia está no mesmo lugar que há um ano.”