Espírito animal e espírito de porco

Um dos elementos que têm caracterizado a incerteza sobre os rumos imediatos da economia brasileira e é intangível, refere-se à capacidade de realizar investimentos e de tocar os negócios da classe empresarial. A expressão corrente, derivada de Lord Keynes, é a de “despertar o instinto animal do capitalista”.

Um ambiente de negócios prósperos, com grandes possibilidades de obter lucro – ainda que reconheçamos que as iniciativas meramente especulativas continuam sendo muito rentáveis – eis o quadro ideal para a realização desse desejo.

Aqueles empresários, quaisquer que sejam seus portes e seus setores, que são produtivistas, ou seja, lidam com mercadorias e serviços úteis, com gente empregada e com salários e produtividade são os que, despertados em sua animalidade, devem resolver enfrentar o risco, botar a mão no bolso ou adquirir créditos e ganhar dinheiro com a ampliação do mercado interno e com o crescimento econômico do qual participam.

Para os trabalhadores que têm emprego, ganham salários e garantem os seus direitos, o “espírito animal” não é desconhecido. Pode-se dizer que ele lhes é antipático, porque além de significar exploração, às vezes o “espírito animal” se transforma em “espírito de porco”, com uma histeria que nos faz lembrar a última crise de 2009.

O governo tem tomado uma série de medidas para despertar o “espírito”, reúne-se com empresários de carne e osso e se orienta fortemente para acelerar o ritmo do desenvolvimento com distribuição de renda; isto, certamente, produzirá resultados positivos em curto prazo.

Hoje, para o movimento sindical, o “espírito animal” é bem-vindo, se ele quiser dizer avançarmos juntos em defesa dos juros baixos, da ampliação de créditos, da industrialização, da diminuição das tarifas (por exemplo, as tarifas de energia elétrica), da desoneração das folhas de pagamento sem prejuízo para a previdência pública e também dos empregos e dos ganhos reais de salário.

João Guilherme Vargas Neto, consultor sindical