Não há limite para juros, diz Tombini

Por Claudia Safatle | De Brasília

“Não tem alívio nem trégua no combate à inflação. A política monetária vai fazer o que tiver que ser feito”, disse, assertivo, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em entrevista ao Valor PRO, serviço de tempo real do Valor, na sexta-feira. Ele adiantou, também, que poderá usar todos os instrumentos de que dispõe exclusivamente para conter a volatilidade da taxa de câmbio e para evitar disfunções no mercado, seja com a venda de dólares no mercado “spot” (à vista), no mercado futuro ou leilão de linhas de crédito. Uma possibilidade, citou, é ofertar linhas de crédito em dólar como uma transição até que as concessões de serviços públicos e os leilões do campo de petróleo de Libra, do pré-sal, marcadas para outubro, reforcem o ingresso de recursos se isso for necessário.

Em resposta à pergunta sobre se há um orçamento de aumento da taxa Selic até o fim do ano, ele disse que não há. “A cada 45 dias [espaço entre as reuniões do Comitê de Política Monetária, Copom] vamos ver”, comentou. Perguntado também se haveria limites previamente acertados à ação do BC, como, por exemplo, não elevar a taxa de juros para o patamar de dois dígitos, ele garantiu que não. “Não tenho limite nem orçamento” para a taxa Selic.

O objetivo do presidente do BC é, com o manuseio dos juros, encerrar este ano com uma variação do IPCA menor do que os 5,84% de 2012 e, para 2014, pretende entregar uma inflação menor do que a deste ano. Neste mês o IPCA chegará à casa dos 6,7% a 6,8% e, a partir daí, a taxa acumulada em doze meses vai começar a ceder, acredita.

A mudança na política fiscal, anunciada na semana passada, vai reforçar a política econômica. Até então sem meta, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi convencido a anunciar na quarta feira passada que o governo produzirá, este ano, 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) de superávit primário das contas consolidadas do setor público, compensando o resultado mais fraco dos Estados e municípios. Mantega terá que se esforçar e tomar medidas para viabilizar o cumprimento da nova meta, já que ela não poderá ser atingida com truques contábeis.

Haverá, sim, algum repasse da desvalorização do real para a inflação, mas Tombini assegura que “quanto mais o cambio flutuar e quanto mais a política monetária estiver adequada para a situação, menor será o repasse”. Na era do regime de câmbio fixo, o repasse em doze meses era de 100% da depreciação, porque havia a certeza da direção da taxa. Com a flutuação, “nunca se sabe se a cotação vai para R$ 2,15, se vai melhorar e cair ou se vai a R$ 2,20” e essa incerteza atenua a pressão sobre os preços.

Tombini avalia que o Brasil está preparado para enfrentar a nova etapa, de reacomodação nos mercados externos decorrente da esperada redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos. “Não estamos com o crédito alavancado, o fluxo de capitais de curto prazo é pequeno e nos últimos dois anos o país não foi dos que mais receberam recursos externos”, disse.

As empresas brasileiras captaram bastante nos anos recentes, mas, como ele lembrou, foram ao mercado externo já em um ambiente de volatilidade. Só em 2012 a taxa de câmbio, aqui, teve uma desvalorização de 25% entre a cotação mais alta e a mais baixa. Não há, desta vez, “ninguém de calças curtas”, disse, referindo-se ao que ocorreu em 2008, quando dezenas de companhias brasileiras estavam aplicadas em derivativos tóxicos e tiveram que ser socorridas.

“Do ponto de vista da estabilidade sistêmica, estamos bem”, concluiu Tombini, citando os US$ 375 bilhões em reservas cambiais e mais de R$ 400 bilhões em depósitos compulsórios do sistema bancário no BC.

Nesta semana, o presidente do Federal Reserve (Fed) voltará a falar, em entrevista coletiva, depois de ter feito discurso, no dia 22 de maio, que foi lido pelos mercados como sinal da intenção de começar a reduzir os estímulos monetários que vêm sendo injetados nos mercados desde a crise de 2008/2009. Desde então, tem ocorrido um enorme deslocamento de capitais dos países emergentes para os Estados Unidos e uma forte valorização do dólar.

Há grande expectativa sobre os rumos que ele dará para conduzir esse movimento e o que dirá sobre a taxa de juro americana. Segundo o presidente do BC, as principais preocupações que se colocam nesse processo de transição são: que os mercados estão disfuncionais por causa de muito tempo de juros baixos; haveria risco de hiperinflação; impacto fiscal relevante no balanço do Fed; e uma desalavancagem desordenada dos mercados. Sobre a primeira, ele considera que o risco é manejável e, lá, as expectativas de inflação estão ancoradas em uma taxa abaixo de 2% ao ano. Sobre o impacto fiscal, Bernanke tem dito que vai levar os papéis a vencimento, fazer marcação a mercado e, se tiver que sair, também pode voltar, aumentar ou diminuir a ração monetária.

Tombini acredita que há o risco financeiro acumulado em função da baixa taxa de retorno dos investimentos nos últimos anos. O próprio “desarme de posições” que vem ocorrendo é uma forma de reduzir o risco.