Governo descarta greve geral no dia 11

Fernando Exman | De Brasília

Autoridades do governo federal acompanham de longe as movimentações das centrais sindicais para a realização de um ato nacional no dia 11 de julho, e esperam que as manifestações não se transformem em um evento de oposição à administração Dilma Rousseff. Integrantes do alto escalão do Executivo descartam a possibilidade de uma greve geral ser realizada na semana que vem, algo também desconsiderado pela maior parte dos sindicalistas envolvidos nos preparativos dos protestos.

As centrais preparam paralisações pontuais de diversas categorias e uma série de protestos que deve contar com o apoio de outros segmentos da sociedade civil organizada, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No governo, acredita-se que a Força Sindical pode até ter uma postura mais radical que as outras centrais durante os atos. Mas a avaliação é que a defesa de uma greve geral ou críticas mais contundentes em relação ao governo não devem ser sustentadas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e as outras seis centrais sindicais envolvidas na mobilização nacional.

“É natural que as centrais façam atos como os que estão acontecendo pelo país, para sustentar a pauta dos trabalhadores”, comentou ao Valor uma autoridade do governo. “É um ato político, não uma afronta.”

Por enquanto, sindicatos de todo o Brasil têm debatido internamente o que farão durante o dia 11. Algumas categorias discutem se começarão a trabalhar mais tarde e outras se encerrarão o expediente mais cedo, a fim de realizar as manifestações nas ruas de diversas cidades do país. Entre os sindicalistas, há a expectativa de que greves ocorram apenas pontualmente. Na quinta-feira, deve ocorrer uma reunião em São Paulo entre as centrais para a definição da estratégia para a série de protestos e que ruas, avenidas ou rodovias serão ocupadas.

“É um dia nacional de lutas com algumas greves em categorias específicas e paralisações em outras categorias”, comentou ao Valor o secretário de Política Sindical e Relações Institucionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Joilson Antonio Cardoso, segundo quem a CTB realizará protestos nos aeroportos do país.

Sindicalistas argumentam que diversas pautas defendidas nas manifestações populares observadas nas últimas semanas já constam da agenda das centrais, como uma maior destinação de recursos públicos para saúde e educação.

Além desses dois tópicos, as centrais sindicais defenderão no dia 11 a rejeição do projeto de lei que tramita no Congresso para regulamentar a terceirização do trabalho. Os sindicalistas também pedirão que as reduções das tarifas no setor de transporte público não sejam feitas em função de cortes dos gastos sociais, o fim do fator previdenciário, a redução da jornada de trabalho sem a redução de salários, avanços na reforma agrária e a suspensão dos leilões de concessão no setor de petróleo.

No meio sindical, há quem lembre que alas dos trabalhadores tentaram nos últimos dias esboçar um movimento de greve geral, mas a iniciativa não ganhou corpo. Autoridades do governo e dirigentes das centrais sindicais argumentam ainda que um canal de diálogo permanente entre o Executivo e o setor, demanda antiga dos sindicalistas, foi recentemente criado por Dilma. Além disso, acrescentam, a própria presidente disse recentemente aos sindicalistas que analisaria com muito cuidado qualquer projeto que pudesse gerar perdas aos trabalhadores.

A próxima reunião dessa mesa de negociação bipartite está agendada para amanhã à tarde, quando governo e centrais debaterão em Brasília o projeto de lei que tenta regulamentar a terceirização do trabalho.

Os sindicalistas querem barrar a proposta. Pelo lado do governo, devem participar o ministro do Trabalho, Manoel Dias, e pelo menos um representante da Secretaria-Geral da Presidência da República.