Ata do Copom indica ritmo menor de atividade

Por Flavia Lima

Uma maior preocupação com a atividade econômica e a possibilidade de restrições no curto prazo também no campo da demanda doméstica. Foi dessa forma que alguns economistas interpretaram a decisão da autoridade monetária de suprimir o trecho que se referia às “limitações no campo da oferta” como um fator condicionante à recuperação da economia na ata de julho do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem pelo Banco Central (BC).

Para Alessandra Ribeiro, economista da Tendências, a exclusão do parágrafo sugere que a economia – que se esperava que cresceria mais alinhada ao potencial – pode crescer menos. “E em um quadro em que ela pode crescer menos que o potencial, não faz sentido falar em limitação no campo da oferta”, diz.

Nas atas anteriores, ressalta a economista, o Banco Central indicava que, apesar das limitações no campo da oferta, que poderiam funcionar como fonte de pressão inflacionária, a economia cresceria em linha com o potencial. “Agora, em um quadro em que a atividade vai ficar abaixo do potencial [que segundo o próprio BC está na casa dos 3%], falar em limitação no campo da oferta pode perder um pouco de sentido”.

Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, afirma que a supressão da frase pode indicar ainda o reconhecimento da autoridade monetária de limitações também no campo da demanda, em meio a um crescimento econômico que perde força. “Até então se via crescimento menos robusto, mas muito ligado à oferta. Agora pode também estar ligado à demanda, talvez refletindo dados da PMC [a Pesquisa Mensal do Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] um pouco mais fracos”. A PMC de maio apontou estabilidade em relação a abril.

Em relatório, o Banco Itaú também ressalta o fato de o Copom ter deixado de mencionar as “limitações no campo da oferta”, mas enfatiza que isso pode levar a avaliação de alguns de que o crescimento baixo observado em 2013 tem características de demanda, e pode ser intensificado pelo aumento de juros. O banco – assim como Alessandra, da Tendências, e Lima, da Western Asset -, fazem uma leitura da ata, o que não significa que concordem com ela.

Para o Itaú, os efeitos das restrições de oferta ainda estão presentes na economia brasileira e mantém o risco inflacionário como principal problema atual do BC. Lima avalia que, se a economia desacelerar muito no segundo semestre, é possível enfrentarmos problemas também do lado da demanda. Mas são as restrições de oferta o principal elemento que pesa no crescimento mais baixo dos últimos anos.

“A dificuldade de crescer no Brasil não é por demanda, basta ver a quantidade de estímulos que foram dados nos últimos anos”, afirma. “Tivemos uma queda expressiva do PIB potencial, que diminuiu muito nos últimos anos, e deve permanecer baixo, e há um tanto de limite de oferta nisso.”

Alessandra, da Tendências, concorda e vai além. Segundo ela, mesmo sendo difícil calcular, a avaliação é que o PIB potencial está mais próximo de 2,5% ou até mesmo abaixo disso. “Então, a economia crescendo na casa dos 2,5% ainda é preocupante porque o potencial é mais baixo, basicamente por conta da redução do ritmo de investimentos nos últimos anos”. Assim, diz ela, os limites no campo da oferta se mantêm, porque a ideia de produto potencial é bem mais baixa e o cenário inflacionário é ainda muito desconfortável.

Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, discorda um pouco dessa visão, ao acreditar que o BC talvez tenha dado peso maior, na verdade, à pressão de demanda, cenário em que o ciclo de alta dos juros como combate à pressão inflacionária faz sentido. Flavio Serrano, economista do BES Investimento, contemporiza. “Apesar de ter suprimido a frase, em vários outros lugares o BC menciona que o descompasso entre a oferta e a demanda ainda continua sendo um problema para a questão inflacionária.”