Análise: Jovem escolarizado: aproveite!

Eduardo Zylberstajn

As 123 mil vagas formais criadas em junho deste ano, segundo os números do Caged anunciados ontem, mostram um desempenho do indicador mensal praticamente igual ao visto no mesmo mês do ano anterior. Entretanto, o crescimento do mercado de trabalho está longe do padrão dos anos recentes. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, o saldo de novos postos formais foi 21% menor do que o observado nos primeiros seis meses do ano passado. Mas a tendência de desaceleração do crescimento do mercado de trabalho não é novidade: desde agosto de 2010 o total de vagas criadas acumulado em 12 meses vem caindo monotonicamente, saindo de expressivos 2,6 milhões de postos naquele mês para os atuais 670 mil. Mas, apesar de ainda termos saldo positivo em termos gerais, alguns perfis da população já registram queda no nível de emprego.

Para os menos escolarizados, por exemplo, o nível de emprego formal vem caindo desde abril de 2012. Nos últimos 12 meses, houve redução de 270 mil postos de trabalho entre os trabalhadores que não se formaram no Ensino Médio. Enquanto isso, os trabalhadores com Ensino Médio completo ou mais escolaridade ainda registram saldo positivo no mesmo período (cerca de 870 mil vagas).

Outro grupo que vem sofrendo as consequências da desaceleração do mercado de trabalho são os trabalhadores mais velhos. Enquanto os jovens de até 24 anos tiveram 1 milhão de novos postos de trabalho formais abertos no último ano, os trabalhadores entre 25 e 39 anos viram 100 mil vagas serem fechadas, e os com 40 anos ou mais perderam 260 mil vagas. Para este último grupo, essa situação (perda de vagas em 12 meses) já vem ocorrendo desde agosto de 2011.

O quadro que se vê, portanto, já é de redução no emprego (formal, pelo menos) para os menos escolarizados e para os mais velhos. Não por acaso, são esses os grupos mais frágeis em qualquer mercado de trabalho em declínio suave, mas prolongado. Em uma crise abrupta, as empresas são obrigadas a reduzir suas despesas rapidamente e acabam tendo de optar por cortar os postos de trabalho de maior remuneração, que são normalmente ocupados pelos mais escolarizados – e que são também os de maior produtividade. Em uma situação na qual a economia patina, as empresas ou contratam menos, ou ao menos reduzem seus quadros de forma gradual e optam primeiro em cortar os postos menos produtivos e que custam menos.

A boa notícia é que, por enquanto, o País ainda consegue registrar aumento no emprego total apesar do momento difícil pelo qual passamos. A má notícia é que alguns segmentos do mercado já estão sofrendo e é provável, caso o cenário econômico não melhore, que haja contaminação mais generalizada. De todo modo, parece estar havendo um reequilíbrio do poder de barganha entre contratantes e contratados. A dinâmica social da última década de ganhos de renda expressivos, especialmente para as camadas menos favorecidas da sociedade, parece ter ficado para trás.