A indústria paulista fechou 16,5 mil postos de trabalho em junho, uma queda de 0,64% na comparação com maio. Considerado o pior resultado desde 2006 – quando a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) lançou o indicador -, o desempenho sinaliza que a situação do emprego industrial tende a se agravar até o fim do ano, avalia Paulo Francini, diretor da Fiesp. A seca no Estado é vista como uma influência negativa adicional sobre o emprego.
A pesquisa mensal de emprego da entidade apontou que o maior número de demissões foi na indústria de veículos, com 3.661 vagas fechadas em junho. Em segundo lugar, veio o setor de produtos alimentícios, com 2.566 postos a menos, seguido por confecção de artigos do vestuário e acessórios (2.562 demissões). Entre os 22 setores pesquisados, 70% apresentaram resultado negativo no mês passado. No acumulado dos últimos 12 meses encerrados em junho, foram demitidos 96,5 mil trabalhadores da indústria paulista.
Em seminário realizado ontem em Campinas (SP), especialistas em recursos hídricos e empresários disseram que o atual momento de seca já influencia negativamente o emprego industrial. O problema afeta, sobretudo, a região metropolitana de São Paulo e as mais de 70 cidades no perímetro da bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que são abastecidas pelo reservatório Cantareira, cujo nível chegou na reserva técnica (volume morto) há dois meses.
Eduardo San Martin, diretor de Meio Ambiente da Fiesp, associou indiretamente ao problema da escassez de água o corte de 3 mil vagas industriais na região da PCJ. “Não existem números oficiais, mas sabemos que só nessa região da bacia, desde março, quase 3 mil postos deixaram de existir. Empresas já eliminaram um turno de produção”, disse San Martin.
Luiz Mayr, vice-prefeito de Valinhos, cidade vizinha a Campinas que adotou o rodízio de água desde fevereiro, contou que empresários interessados em investir no município estão preocupados. “Chegam no gabinete do prefeito e a primeira coisa que querem saber é se haverá água”, relatou Mayr.
Um levantamento divulgado pela Fiesp ontem mostrou que em cada três empresas, duas estão preocupadas com possível interrupção no fornecimento. A possibilidade de um racionamento ainda este ano é um fator de preocupação para 67,6% das 413 indústrias ouvidas pela pesquisa, entre os dias 12 e 26 de maio.
Das indústrias ouvidas, 62,2% indicaram que a produção pode ser prejudicada, mas não precisa ser interrompida em caso de racionamento. Para 11,9%, a produção é paralisada apenas no momento da interrupção e retomada em seguida. Já 12,1% responderam que a produção não seria afetada.