Plano da Volks de cortar custos no ABC é rejeitado

Valor Econômico

Eduardo Laguna 

Trabalhadores da Volkswagen em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, rejeitaram a proposta da montadora que previa congelamento de salários e a abertura de um programa de demissões voluntárias com o objetivo de reduzir o excesso de mão de obra na fábrica. O acordo negociado entre a empresa e o sindicato dos metalúrgicos da região foi reprovado em assembleia única realizada na tarde de ontem.

Pela proposta, os salários não seriam reajustados em março de 2015 e no ano seguinte a Volkswagen concederia reajuste salarial inferior à inflação. Para compensar em parte a falta de aumentos, a montadora ofereceu o pagamento de abonos salariais nesse período.

O objetivo do sindicato ao ceder essas condições durante as negociações era melhorar a competitividade da operação para atrair à região investimentos que a Volkswagen está realizando na renovação de sua linha de produtos. No anúncio do acordo, o sindicato dos metalúrgicos do ABC informou que a proposta costurada com a fabricante abriria caminho à produção de três novos modelos da marca em São Bernardo, dentro de um programa de investimentos de R$ 10 bilhões anunciado pela multinacional alemã no país.

Como a proposta não foi aprovada pela maioria dos funcionários, continua valendo o acordo fechado em março de 2012, que prevê reajustes salariais reais – ou seja, acima da inflação – de 2% em 2015 e 2016.

Dirigentes da montadora também terão de negociar novamente com o sindicato alternativas ao excesso de mão de obra na fábrica, já que a proposta de abertura de um programa de demissões voluntárias, junto com incentivos à antecipação de aposentadorias, estava no pacote rejeitado ontem na assembleia dos trabalhadores.

A retração no mercado interno, agravada pela desativação, no fim do ano passado, das linhas que produziam a Kombi e o Gol G4, aumentou a ociosidade nas linhas de produção, obrigando a empresa a recorrer durante este ano a expedientes como férias coletivas e suspensão de contratos de funcionários para administrar uma força de trabalho excedente de 2,1 mil operários – o equivalente a 16% dos 13 mil empregados da unidade.

Como o compromisso assumido no acordo coletivo firmado em 2012 impede a Volks de demitir compulsoriamente todos esses trabalhadores, a montadora tem à disposição duas alternativas para reduzir o excesso de mão de obra: ou renegocia os programas de demissão voluntária e de aposentadoria ou volta a recorrer ao “layoff”, a ferramenta prevista na legislação trabalhista que permite afastar os operários da produção por até cinco meses. Nesse período, parte do salário – R$ 1,3 mil – é bancada por recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Entre maio e outubro, a Volks lançou mão dessa alternativa para afastar da produção cerca de 800 operários em São Bernardo. Na fábrica da marca no Paraná, outros 572 empregados estão em “layoff” desde outubro.

O presidente da Volkswagen no Brasil, Thomas Schmall – que deixa o cargo no fim deste mês-, vem cobrando do governo mudanças na legislação trabalhista para aumentar o período do “layoff” a dois anos, a exemplo do sistema de proteção ao emprego alemão.

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