Faz quase quatro meses que a bola deixou de rolar, mas obras prometidas para a Copa do Mundo ainda não foram entregues e deixam em xeque o legado do evento na área de infraestrutura. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revela que apenas cinco das 36 obras de mobilidade urbana, por exemplo, foram concluídas até agora. Nove projetos têm menos de 60% de execução física, como o VLT Parangaba-Mucuripe (Fortaleza) e o acesso ao aeroporto de São Gonçalo do Amarante (Natal).
As obras também ficaram incompletas nos aeroportos. Das 26 intervenções previstas, segundo o tribunal, só 14 foram entregues até o pontapé inicial do torneio. Outras 12 ainda estão em andamento, quase cinco meses após o encerramento da Copa. Problemas como inadimplência, repactuação de cronogramas de trabalho e a consequente necessidade de aditivos contratuais foram apontados pela Infraero como os principais responsáveis pelos atrasos.
Com relação aos aeroportos, o TCU informou que o custo global das obras tocadas pela estatal superou em 66% o previsto na Matriz de Responsabilidades. Ao todo, foram gastos R$ 4,41 bilhões, ante os R$ 2,66 bilhões originalmente orçados. Já os investimentos das concessionárias privadas dos aeroportos de Brasília, Guarulhos, Campinas e São Gonçalo do Amarante somaram R$ 3,62 bilhões.
O custo da construção e reforma dos estádios também ficou acima do orçamento original. Informações do BNDES ao TCU dão conta de que as arenas custaram R$ 8,44 bilhões, o que representou um acréscimo de R$ 440 milhões ao que se calculou inicialmente. O tribunal demonstrou, no entanto, satisfação com o nível de uso dos estádios após a Copa. “O aproveitamento desses espaços para finalidades múltiplas constitui relevante legado deixado pela Copa do Mundo Fifa 2014 para o Brasil”, diz o documento.
Um dos piores retratos foi visto nas ações de infraestrutura do turismo. O governo previa investir R$ 180,2 milhões na construção, reforma ou ampliação dos centros de atendimento aos turistas, implementação ou complementação de sinalização turística urbana e obras de acessibilidade para portadores de deficiência.O Ministério do Turismo optou por executar os projetos de forma descentralizada, por meio de contratos de repasse celebrados com as cidades-sede, com a intermediação da Caixa Econômica Federal. De acordo com a auditoria, dos 39 contratos de repasse celebrados para a realização de ações definidas na Matriz de Responsabilidades, 23 não tiveram seus objetos iniciados. Apenas um contrato está 100% concluído e teve como objeto a aquisição de duas vans para funcionarem como centros móveis de atendimento ao turista em Brasília.
As obras mobilidade urbana no entorno das arenas custariam R$ 996 milhões. Segundo o TCU, os órgãos responsáveis pelos projetos informam que a maioria já está concluída ou em vias de conclusão, “o que contribuirá para facilitar o trânsito e o deslocamento da população local nas proximidades dessas arenas, bem assim o acesso do público usuário a esses estádios”.