Bens de capital, setor que indica o investimento na economia, recuou
Cássia Almeida
A produção industrial brasileira voltou a crescer em julho, depois de três meses seguidos de queda. A taxa de 0,4% na comparação com junho veio abaixo das expectativas dos analistas, mas a expansão foi espalhada pela maioria dos setores, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo IBGE. Frente a julho do ano passado, a alta foi de 8,7%, o que fez, no ano, a produção atingir 15% acima do mesmo período de 2009. Nos últimos 12 meses, a indústria cresceu 8,3%.
— A alta foi disseminada.
Das 27 atividades pesquisadas, 17 cresceram. A reação veio de automóveis e motos, produtos químicos, celulose, refino de petróleo e extrativamineral — afirmou André Macedo, gerente da pesquisa.
Depois do segundo trimestre reduzindo o ritmo, o que fez a indústria recuar 2,2% de abril a junho, o crescimento em julho fez o patamar da produção ficar apenas 1,7% abaixo de março deste ano, mês do recorde de quantidade produzida.
— Estamos próximos do patamar mais elevado. O período de comparação também influenciou no desempenho frente a 2009. Em julho, alguns setores já estavam se recuperando forte — disse Macedo.
Importação de máquinas se manteve, dizem analistas
Um indicador da pesquisa chamou a atenção. A produção de bens de capital, tipicamente voltados para aumento da capacidade produtiva da economia, caiu 0,2% em julho, depois de um recuo de 2% em maio. Mas essa queda não indica que o investimento na economia recuou, na opinião de analistas.
— Apesar da queda nos bens de capital e na construção civil, a importação contrabalançou, disse Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora.
Para o economista Paulo Levy, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no segundo trimestre, apesar do ritmo menor da produção frente ao ano passado, o investimento acelerou: — Deve ter crescido 30%. No primeiro trimestre, a alta havia sido de 26%.
Macedo, do IBGE, afirma que a queda na produção dos bens de capital foi influenciada por fatores externos ao setor.
A produção de máquinas e equipamentos caiu 6%, afetada pelos eletrodomésticos, considerados bens duráveis.
Com o fim dos estímulos, essa atividade se ressentiu mais.
Levy afirma que o mercado de trabalho é um sinalizador do comportamento da produção. A taxa de desemprego está baixa, lembra o economista, com a ocupação crescendo 3%.
— Isso mostra que o segundo trimestre foi de acomodação — diz Levy.
A expansão de julho não deve mudar os rumos da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que será conhecida hoje. A manutenção da taxa em 10,75% ao ano já é dada como certa, na opinião de Montero.