Pesquisa do IBGE mostra que o setor de vestuário corta pessoal há quase cinco anos e o têxtil demite há praticamente quatro anos
A indústria completou, em março, três anos e meio de demissões, e hoje emprega o menor contingente de trabalhadores em toda a série histórica da pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em dezembro de 2000.
Em alguns setores, as dispensas de trabalhadores são realidade há mais tempo. O segmento de vestuário está há quase cinco anos diminuindo o quadro de funcionários, enquanto têxtil, calçados e couro se aproximam dos quatro anos no vermelho.
Na indústria geral, são 42 reduções seguidas na comparação com igual mês do ano anterior. Em março, o recuo de 5,1% nesta comparação foi o mais intenso desde outubro de 2009 e levou o emprego ao menor nível já registrado em toda a série, iniciada em dezembro de 2000.
58 quedas seguidas. No setor de vestuário já são 58 recuos consecutivos. “Isso é efeito das importações, da falta de competitividade. Estamos alertando há muito tempo o governo que a produção vinha estável, enquanto o consumo do varejo vem crescendo, e isso estava sendo preenchido por importados. Em um primeiro momento, isso não aparecia porque havia formalização”, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Rafael Cervone.
Desde o ano passado, porém, houve reversão nessa tendência e, para este ano, a associação espera um corte de pelo menos quatro mil vagas formais. O déficit de US$ 6,2 bilhões na balança comercial esperado para 2015, por causa do avanço dos importados, reforça essa posição.
“Estamos esperando uma agenda positiva do governo. Somos o primeiro setor que sente os dificuldades, mas também podemos ser o primeiro que se recupera”, disse Cervone.
Queda na produção. O quadro geral da indústria é mais desfavorável até do que durante a crise de 2008/2009, quando a queda brusca na produção havia deixado os trabalhadores na indústria na pior situação até então.
“A produção precisa de uma sequência consistente de taxas negativas para impactar o emprego, o que vemos agora”, explicou Rodrigo Lobo, técnico da Coordenação de Indústria do IBGE.
Em março, a produção acumulou a 13.ª queda seguida em comparação a igual mês do ano anterior, algo inédito na série.
“A sequência de queda na produção, ainda que (a taxa seja) menos intensa, faz com que o emprego esteja pior hoje. Os empresários não vislumbram expectativa de recuperação da produção no curto prazo. Com isso, queda do emprego se perpetua”, disse Lobo.
Embora esteja demitindo há menos tempo do que o setor de vestuário, o segmento de meios de transporte é hoje o principal impacto negativo sobre a força de trabalho na indústria.
A atividade inclui a fabricação de veículos automotores, que tem amargado retrações intensas na produção diante do crédito mais caro, da desaceleração da demanda, do elevado endividamento das famílias e do desafio dos consumidores em reequilibrar o orçamento doméstico.
Eletrônicos. A fabricação de equipamentos eletrônicos também tem reduzido o número de funcionários. Em 2014, o setor teve um bom momento, diante da demanda aquecida por televisores no período pré-Copa do Mundo. Agora, com o menor apetite das famílias por bens duráveis, os fabricantes dispensaram operários.
Mas a redução no contingente de trabalhadores ocorre em todos os 18 ramos da indústria e também vem afetando o número de horas pagas e o valor real da folha de pagamento, que também colecionam recuos.
O número de horas cai há 22 meses e atingiu em março o menor nível da série, iniciada em dezembro de 2000. Enquanto isso, o valor da folha diminui há dez meses.
“O emprego industrial caminha para sua quarta taxa negativa consecutiva em 2015, algo inédito em sua história recente”, analisou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).